Bruno Pedrosa.
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Foto de Bruno Pedrosa. |
RAIMUNDO PINHEIRO PEDROSA.
Fonte: (Extraido do Livro Mangabeira nas artes nas letras no mundo de Dias da Silva).
Escrever alguma coisa sobre com quem a gente convive não é tarefa tão dificil. Tão de suor. Entretanto acerca de quem é internacional, que mora no mundo (e muito pouco com a gente) fica meio problemático. Como se trata, porém, de rápidos e modestos registros a coisa é outra. Muita coisa é lembrada. Alguma coisa é esquecida. Mas dá para a gente amontoar alguns tópicos sobre a vida de Raimundo Pinheiro Pedrosa que lá da Itália, atenciosamente, manda farto material o que com sinceridade agradeço. Bruno Pedrosa (é assim conhecido entre nós, no Brasil e no mundo). Porque BP é um artista do mundo. Internacional. Pois é: é o nome de guerra (até no nome da gente tem guerra...) Guerra é assim mesmo. Não sei quem disse que "a guera é, na maior parte do tempo a espera de alguma coisa que custa a acontecer". Sei não. Porque guerra sempre aconteceu. Houve sempre e haverá sempre. Guerrear é um impulso natural do ser humano. É guerra em família. Entre nações. Entre povos. Até dentro de cada um. Bruno Pedrosa está ainda tão na verdura dos anos. E já furou o mundo. E já vai tão longe. Do contrário, o mundo estaria perdendo um grande artista. O nosso amigo nasceu em 1950. Como a gente corre no tempo. É, o tempo não corre, a gente é que core. Eu já contava 12 anos. Doze anos já de corrida no tempo. É verdade: o tempo é um tirano que maltrata as horas e os momentos felizes. Por falar em tempo, um médico português escreveu - aceite isto quem quiser - que todos caminhamos para a demência que quando se antecipa - chama-se precoce. Pois foi: foi no dia 11 de janeiro de 1950 em que acordava Catingueira, a criança (diz-se que teve concepção no Sítio Taquari e ainda no escondido do ventre materno já empreendia a primeira viagem) que alguns anos depois encantaria o mundo e deslumbraria os olhos das pessoas com tintas e cores artísticas. Deram-lhe vida Manoel Pinheiro Pedrosa e Raimunda Ribeiro Pinheiro Pedrosa.
A mãe Raimunda deve ter deixado ao filho o pendor para a arte. Ela era exímia costureira. No bordado dava lições de mestre num gosto refinado. Marcou-o também o temperamento dos Ribeiros. Assim de pessoa contraditória: "Se neva, tenho saudade do sol se faz sol tenho saudade do frio" - escreveu anos depois.
Numa coisa, todavia. guardava distância de sua mãe: ela andava sempre de acordo com o figurino no ambiente sertanejo. Bruno Pedrosa não, em menino, já era meio desleixado. Descurava mesmo da vestimenta. Nunca lhe foi muito importante a indumentária. Embora o mundo valorize mais as aparências. E Bruno é do nundo. Você pode ver: nos anúncios de ofertas de emprego - coisa muito rara hoje - o que se exige é boa aparência e apresentação. Não se leva em conta o ser gente. Como é. Se tem caráter. Se tem responsabilidade. Isso é coisa de somenos importância. Se o candidato está bem vestido. Se a jovem usa baton. Vestido curto e bonito. Só a aparência é que conta. Só. Ainda hoje não lhe traz preocupação o vestir bem. Tem raiva muita - eu tenho mais ainda - de quem inventou paletó. Nem falar de gravata. Sou assim: quando me obrigam a botar o paletó, não sou mais eu, que estou embrulhado. Sinto-me outro e esse outro é que tem raiva de paletó e gravata. Enforcando o pescoço da gente. Sufocando a gente. E tem repartição que só aceita (recebe) a gente dentro de paletó. A determinadas festas só vai quem está de vestido longo e chapéu na cabeça ou, se for homem, todo empacotado. Pra muita gente só e gente quem usa essas coisas. Nessas ocasiões, dá-me a vontade de fazer como o poeta Laurindo Rabelo: embrulhar o paletó e a gravata num papel com um bilhete - Ai vai fulano de tal. Dá pra gente fazer isso. É tanta roupa bonita e rica enrolando coisas sujas. Desonestos. Exploradores. Ladrões e tanta lama. Andar embonecado por ai em fora, frequentar restaurantes cheios de etiquetas e formalidades nem pensar. O de que Bruno Pedrosa gosta mesmo é trazer os pés descalços. De arroz com leite. De baião-de-dois. De feijão com pão, com tempero de torresmo (a gente dizia "torreino"). De coalhada com rapadura e outro de - comer do sertão. Imagine-se o sofrimento do Bruno andando pelo mundo. Tenho que usar traje a rigor, em certos momentos. Nada tão rigoroso do que um terno e uma gravata sem deixar a gente ser a gente. Tendo que provar iguarias fabricadas. Tendo que obedecer a tantas formalidades e artificialismo. É talher pra isso. E é talher para aquilo. É colher para outra coisa. Fico perdido em ocasiões assim. Todo enrolado. Acostumado que era a comer sentado no chão. As pernas abertas. A colher (só uma) de arame na mão. Por que se diz colher de arame? Porque nem arame tem. Era. O arroz com feijão era mais gostoso. E mais gostoso o feijão com arroz. Porque era só feijão e arroz. E a gente era feliz: tinha arroz e feijão para comer. Porque Bruno Pedrosa já percorreu o mundo. Levando a sua arte para deslumbramento do mundo. Já viu gente de todo jeito. Já viu costumes de todo jeito. Já viu cultura de todo jeito. De jeito próprio. Porque cultura é "a maneira peculiar através da qual, dentro de um povo, os homens cultivam as suas relações com a natureza, entre si e com Deus, como estilo de vida comum desse povo, consequência do seu caráter social". Espere, amigo, você vai ler mais coisa sobre cultura. Assim: "Cultura é lento trabalho de criação de obras de arte e de pensamentos, de costumes, tradições, de valores, símbolos, imagens e representações que exprimem, transformam ou cristalizam experiências de vida coletiva e suas manifestações individualizadas". Marlene Chauí sabe de coisa não é? Dizer um negócio sobre cultura só sabendo muito. Só lendo muito. Só conhecendo muito. Pois é: Bruno Pedrosa já viu tantas culturas em suas andanças.
Ele é assim: não carrega vaidades. Com duas cuecas, com duas camisas, um par do sapatos que lhe respeitem o calcanhar e um carro que ande (não precisa ser do ano e importado), ele se acha feliz. É assim Bruno Pedrosa, o artista das tintas, das cores e das linhas. O que não dispensa é a limpeza. "Sou até meio maníaco com essa história de limpeza de corpo, de casa. Torro a paciência dos outros". É certo: a gente pode ter pouca roupa e andar limpo. A quem ele chamava de Mãe Tia dizia: " ser pobre não é ser sujo". Bruno Pedrosa gosta de livro. Gosta de ler. Não descura nunca de seus livros. Por isso é que é assim: conhecedor, culto, inteligente. Porque lê. Porque lê muito: nos livros e o mundo. Ah, a admiração de Bruno pelo pai. Do começo: Meu pai... Só falava assim. Ainda hoje diz: Meu pai. Em criança, via no pai um herói. Como um gigante em sua natureza humana. Na simplicidade de sua alma. Bruno Pedrosa cresceu. Criou fama, o mundo é a pátria de sua obra. Mas não larga a visão do pai. Meu pai. Sempre com meu pai. Convívio com a natureza e meu pai. Sempre presente, Meu pai. Aos seis anos, foi mandado para a escola. Para apender a carta do ABC. Era coisa tão dificil a carta do ABC. Juntar aquelas letras. Formar palavras. Soletrar nomes. Aquela decisão caiu-lhe na alma como uma bomba. Como num dia de juízo. É melhor dizer sem juízo. Porque sua compreensão de escola era a de castigo. A escola tinha a cara do inferno. Lugar de castigos. Lugar de levar bolos: a palmatória botando medo em todo mundo. Não rezava para aprender, mas fazia promessas para a professora passar logo para outra dimensão. A professora não morria e Bruno era forçado a estudar. Tem um pensamento que diz: o que deve ser feito deve ser bem feito. Bonita ideia. Entretanto nada forçado sai bem feito. Por isso ainda não consegui entender o voto obrigatório. O serviço militar obrigatório. E outras coisas mais obrigatórias. Ora, Bruno havia sido coagido a ir para a escola. Se não fosse assim, não teria frequentado escola alguma. É verdade: há certas coisas a que a gente tem que ser obrigado mesmo. A estudar, quando criança, é uma delas. O fato é que Bruno aprendeu a ler nem sabe como. Ainda forçado. O negócio é que ele, por dia, decorava cinco letras do Alfabeto. Ao chegar ao"z", o avô, Raimundo André dos Torrões... (Parece que a gente está vendo a Casa Grande. De alpendre Grande. De quartos grandes. De cozinha grande. De Raimundo André dos Torrões, lá, majestosa. O olhar comprido para o nascente esperando as chuvas. A Casa Grande. Lá em cima. Cheia de gente. De gente chegando. De gente saindo. E Bruno gostava de ver a atureza revoltada, com relâmpagos riscando o espaço e os trovões espantando os elementos. O espetáculo da natureza lhe botava admiração na alma. Do alpendre grande da Casa Grande do avô não arredava pé, a espiar a água limpa das biqueiras). Haja paciência e fôlego. Dizia-se que, ao chegar ao "z", o avô enchia o peito de orgulho pela vitória do neto: havia aprendido até a letra "z". Celebrava, vaidoso, o grande feito do neto cuja fama começava a assombrar os de casa. Com uma oiticica - a gente escreve com oiticica - num canto de táboa do candeeiro, riscou: "Este menino vai ser o mais sabido que já se criou nestes Torrões de Pai Doca". O medo de não corresponder à profecia do avô botou-lhe preocupação no peito, o que lhe trouxe apreensão e angústia. Era a responsabilidade crescendo. E o neto não decepciona o avô. Não decepciona ninguém. A profecia queimando nas entranhas. Gritava tão forte no peito, que foi passando vitorioso pelas cartilhas de Felisberto de Carvalho. Só nas costas não tinha muito sucesso. Era fogo decorar a tabuada. Mas quase que consegue aprender as quatro operações. Primeiro ano. Era demais já. Coisa de gênio. Lá vêm os livros de Filgueira Sampaio. (Estudei tanto nos livros de Filgueira Sampaio de Lavras. De capas amareladas. Livros bonitos). E aí o Bruno Pedrosa começou a ler o mundo. A ver a história do Ceará. Quem foi Martim Soares Moreno. Quem foi Matias Beck. E outros nomes mais. E sofreu. Apanhou para aprender. Esqueceu coisas. Aprendeu mais coisas. Mais coisas do que esqueceu coisas.
Da escola do Baixio Verde pulou para o Crato. De cidade grande. Porque o Crato já era uma cidade grande. Multiplicados os professores. Boas professoras. Professoras médias. É assim em toda profissão: há o excelente, o bom, o médio, o medíocre e o ruim. Até o péssimo. E tem tanta gente que é péssima na profissão. Todos os professores - dizia Bruno - suportáveis. Ele era que era o aluno insuportável. Mais na frente, decidiram que Bruno (Não, não era Bruno ainda, era Raimundo Pedrosa), deveria estudar em internato. Seminário São José de Crato. Escola de bom estudo. Ai o livro toma vulto, para ele. Tinha uma biblioteca que frequentava assiduamente. Gosto pela leitura. Pela literatura. Pelas raras edições das literaturas brasileira e portuguesa. Folheia tratados de filosofia. De teologia. História do Brasil.
História Universal. Livros franceses com belíssimas encadernações. Sem saber francês direito, passava horas olhando as ilustrações de Gustavo Doré. E de outros. Sem dúvida uma convivência salutar com os clássicos, sobremodo da Literatura Portuguesa. Era o que mais havia na biblioteca. Deu risadas e chorou ao ler Camilo Castelo Branco. Alexandre Herculano e os romances históricos. Até hoje, Bruno Pedrosa faz releituras de Almeida Garrett. De Camilo. De José de Alencar. De Oliveira Paiva. Nas férias lia que lia em rede armada no alpendre da casa do avô dos Torrões. É verdade: a admiração pelo avô vem desde os 12 anos. Comprar livros desde então tem sido sua cachaça. Era o artista se remexendo no peito. A literatura se antecipou à paixão pelas cores e pelas camadas de tinta. Na vida fechada de seminário, de disciplina tão dura, para ele esvaziada. RPP sonhava jogando o pensamento pelo tempo e pelo espaço. Precisava de liberdade para sonhar alto. Para o vôo mais alto. Sentia a mente sufocada, querendo espaço. Descobriu que os livros e as tintas lhe dariam tudo isso. Era o artista se desvencilhando das amarras da vida entre paredes. Precisava desabafar pelas cores, tintas e linhas. Num pedaço de lenço branco, com tinta barata, pinta a figura do vaqueiro. Primeira manifestação artistica. Foi insistindo. Teimando. Pinturas outras foram chegando. O Seminário não lhe comporta mais a explosão de idéias. De cores. De tintas. De traços. Não chegou a ser expulso do internato. Ele próprio se expulsou. Precisava de mais ar. De ler o mundo. De pintar o mundo. Larga-se para a Capital. Para cidade maior. Com a simples visão do mar, o artista grita por dentro. Gritam idéias novas. Sobre o mundo. Sobre a vida. "Por que tanta água desperdiçada e tanta seca no sertão?". - Pensa. O mar, as pessoas, as ruas, Praça do Fereira, Parque da Criança, Passeio Público, tudo lhe trazia marcas enchendo-lhe o peito de visões, de linhas, de cores, de desenhos. É verdade: descobriu-se artista em definitivo. Ser o pintor do sertão. Dos homens. Das mulheres sertanejas. Do folclore do sertão e dos costumes. Fortaleza, porém, já parecia pequena para guardar o talento de Raimundo Pedrosa. Aquela ânsia de perfeição de formas e de trabalhar o pincel e o lápis bota-lhe inquietações. Tanto que aos 18 anos busca o Rio de Janeiro com tintas cores pincéis quadros e desenhos se atropelando na mente. Ele escreveu: "Nessa migração fiz-me homem. Pobre homem (sobretudo homem pobre) porque também me fiz artista". Você amigo já nasceu artista em potencial. O compromisso e a teimosia só acordaram o talento adormecido. "O drama - continua - do artista misturando-se com o drama do homem". E o Rio aguçou-lhe a sensibilidade. Aperfeiçoou o artista que estava adormecido. Fez cursos universitários. Professor do colégio Bahiense e do São Marcelo, na Gávea. Aguentou alunos malcriados do Colégio de Aplicação da UFRJ, na Lagoa; os do Colégio do Rio de Janeiro, em Ipanema. Coisa assim meio curiosa: ficou cinco anos no Mosteiro de São Bento. Sem ser para monge. Pois é: Raimundo Pedrosa - ainda era Raimundo Pedrosa - não queria virar monge. De maneira alguma. Nem dava pro negócio. Por que então cinco anos, num Mosteiro, vivendo como monge? Sei não. Vou repetir: o ser humano é um ser inacabado. Há sempre um caminho a andar. Quando se diz realizado, está apenas começando. Ao chegar ao Rio, - agora já pode ser chamado Bruno Pedrosa - Bruno Pedrosa sentiu haver muito a melhorar. Eram tantas as lacunas na formação cultural. Era verdade: ele era um artista. Precisava conhecer melhor a arte diante de que se via quase como analfabeto. E a arte gritando dentro dele. Sentimentos e emoções em ebulição querendo adquirir formas, cores e linhas. Sozinho, teimoso e corajoso Bruno Pedrosa se enfurna na Biblioteca Nacional. Pelas Galerias empoeiradas do Museu Nacional de Belas Artes. Na biblioteca da EBA. Horas a fio, lendo, lendo. Cansado da leitura, ficava a admirar os quadros pendurados nas paredes. A examinar. A pensar. A emocionar-se. É. O Museu Nacional foi o primeiro lugar visitado. Os olhos do artista emergente se encheram de beleza, correndo de quadro em quadro. Pedro Américo lhe causou fascinação. Depois, Rodolpho Amoedo. Depois Batista Costa, com os verdes prados tropicais. O quadro de Eliseu Visconti - tem um Visconti hoje em São Paulo que é ladrão e está preso - botou-lhe entusiasmo no íntimo. E vieram outros. E vieram mais outros. Algumas datas pra fazer raiva ao leitor, porque a mim data me faz raiva: em 1968, ingressa na Escola Fluminense de Belas Artes, em Niterói. Bráulio Poiava, Aluízio Valle Clau Deveza foram professores seus. Em 1970 - entra para a Escola de Belas Artes da UFRJ. Um ano antes - 1969 -classificou-se em 2° lugar e vai para a Escola Nacional de Belas Artes, ambiente propício para o artista Bruno Pedrosa, bem como a Escola Fluminense de Belas Artes. Primeira exposição solo. Primeira menção honrosa. Primeira medalha de bronze. Depois, de prata. Depois, de ouro. E lhe veio a "descoberta de que tudo aquilo não valia nada em relação à seriedade da obra de um artista, porque era fruto de panelas, conchavos, safadezas morais inconfessáveis"."Deixar de tanto faz-de-conta, academias, sociedades..." "A única sociedade a que pertenço é a do gênero humano, e assim mesmo por não ter sido previamente consultado". Eu também: se consultado, não gostaria de pertencer a uma sociedade tão suja, tão na lama, tão
egoista, tão gananciosa, tão violenta, tão sem humanidade como a de hoje. E as datas? Em 1972, lança o álbum de desenhos "Ouro Preto, Cenário de Tiradentes". No ano de 1974, é-lhe conferido o título de bacharel pela Faculdade de Belas Artes da UFRJ e de Arqueólogo pelo Centro Brasileiro de Arqueologia. Nesse ano, Bruno Pedrosa rompe as fronteiras nacionais com sua obra. O mundo exigia a presença do artista que arrancava já admiração e aplausos (o louvor aplaude; o reconhecimento reconhece a ação) dos amantes da pintura e de leigos. Precisava encantar-se com seu talento de artista lá da Catingueira. Com o seu jogo de cores. Com a beleza de seus traços. E lá vai Bruno Pedrosa expor na Galeria do Departamento de Belas Artes da Universidade do Tenessee nos Estados Unidos. E a fome do público pela arte de Bruno Pedrosa pede mais. Em 1975, sai a segunda edição do "Álbum de Ouro Preto", desta feita, com o patrocínio da Fundação Hartford Bristol, de Nova Iorque, E não pára por ai. Em Washington expõe no Panamerican Union. Depois, na Galeria Coutunier, Ney Haven. E depois, Galeria Bristol - Mineapolis, Eua. Faz mais: participa do Cherry Classe Art Festival, Sunnyvale, na Califórnia. Daí, Bruno Pedrosa voa, para exposição no Palácio das Belas Artes. Outros paises queriam ter o artista em seu meio. Dir-se-ia que estavam perdendo um grande artista da pintura. E a Nicarágua o arrasta para participação em concurso de Artes Plásticas e Literatura Ruben Dario, em Manágua. Outra vez em Washington, apresenta, com sucesso, quadros na Gallery of Contemporany Art. Andou pelo Brasil e Argentina, sempre admirado e arrancando aplausos. Vai aqui uma tentativa de explicação do gesto de Raimundo Pedrosa de entrar para o Mosteiro de São Bento. Numa atitude quase excêntrica de um solitário. (BP não era nem solitário nem excêntrico). Mas atitude quase incompreensível, no inicio de 1976. Permanece no Mosteiro por cinco anos. Pois é: esta opção do artista trouxe pasmo para muita gente. Por que o Mosteiro? Como viver entre paredes quem já era do mundo? Lá por dentro, o artista guarda, bem escondidos, a fama e o prestígio que o lá fora lhe dera. Uma certeza, contudo: o recolhimento, a esta altura, lhe trouxe grandes benefícios. O mundo gritava seu nome, mas a idéia de que a fama é apenas o esquecimento adiado gritou-lhe mais forte. A vaidade não lhe suplantou a razão e o bom senso. Não lhe ardia no peito o orgulho pelo que representava já para o mundo. Tudo isso vale nada. BP precisava de paz e de silêncio (o silêncio é a soma de todas as vozes) tão falsos na alma das pessoas. No mosteiro teve boa acolhida não obstante a resistência de alguns monges. O tempo de clausura - cinco anos - deu-lhe, como se diz oportunidade de "assentar o pó"'. Durante esse período, BP leu muito. Leu tudo: história, filosofia, ficção, arte. Socado entre quase cem mil titulos da Biblioteca do Mosteiro. Em meio a tantos livros e compêndios, quadros, estantes grandes só de arte. Devorou tudo. E BP aprende mais. A criacão se afina. Aprimora o manejo do pincel e do lápis. Trabalha, com mão de mestre, as camadas de tinta. As cores ficam mais vivas. E mais: BP pensou muito. Preparou-se para aceitar mais. Para compreender mais. (O mundo só não está melhor porque não está sabendo compreender). Para adaptar-se mais às coisas. A ser mais tolerante. A despeito de haver quebrado o ritmo de sua vida profissional - como numa espécie de hiato - o Mosteiro lhe proporcionou tranquilidade emocional. E chegou à conclusão de que o homem é dono de nada e assimiloua verdade socrática: "Só sei que nada sei". Pois foi: a sua revelia, deram-lhe a alcunha de Bruno. Foi lá que ele começou a ser chamado de Bruno - Irmão Bruno. E Bruno hoje é irmão da gente de todo jeito. Irmão porque é um cara bom, compreensivel, tolerante, amigo. E Bruno Pedrosa pensava: "meu nome é Raimundo, filho de Raimunda, neto, bisneto e trineto de Raimundo e me apelidam de Bruno, não dá para entender". Era uma espécie de jogo. Logo se acostumou com o nome. A saida foi ligar a denominação a duas personagens de sua admiração - A dois homens "de vergonha na cara" : São Bruno, obediente (Ora et Labora), que era o Patriarca São Bento, e Giordano Bruno, filósofo italiano, assado na fogueira da Inquisição por lutar pela liberdade de pensar e falar.
Em 1980, deixa o silêncio dos corredores sem fim do Mosteiro e bate atrás de si a grande porta. Na certeza de que a vida monástica é bonita para o vocacionado. Não para o artista que era. E caminha de novo para o mundo. Em 1979, Bruno Pedrosa, sob encomenda, pinta o retrato de João Paulo II, posteriormente integrado ao patrimônio do Vaticano. Mil novecentos e oitenta: lançamento do Álbum de desenhos -Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, de que faz exposição no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Atente o amigo para estas informações: entre os anos de 1969 e 1988, Bruno Pedrosa não parou de correr cidades, com exposições individuais. Assim: Niterói, Rio de Janeiro; Ouro Preto, Minas Gerais; Rio de Janeiro; Santos, São Paulo; Cuiabá, MT; Crato; Ceará; Petrópolis, Rio; Fortaleza-Ceará; São Paulo, Nova Friburgo, Rio. E o período continua fecundo e fértil. Agora em coletivas: Crato, Recife, Niterói, Petrópolis, Curitiba. Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Natal, Goiânia, Belo Horizonte, Santa Maria, Valença, Porto Alegre. Juiz de Fora. No ano de 1988, multiplicam-se as exposições individuais, cobrindo grande parte do mundo. É a obra de Bruno Pedrosa
caminhando o mundo. Encantando pessoas. Arrancando aplausos. É verdade: seus trabalhos se espalham, aplaudidos, pela crítica e admirado pelo público, por paises inúmeros, em coleções particulares, em museus, em instituições oficiais e religiosas. Por todo canto. Assim: Brasil, Estados Unidos, Nicarágua, México, Argentina, Itália, França, Portugal etc. Está em exposição permanente na Galeria Crato, Veneza e Itália. Bem. Bruno Pedrosa é, sobretudo, artista. Artista do desenho. Artista das cores. Artista dos traços. Artista das formas. Leia-se, a seguir, o que oscreveu Aristélio Andrade, em 1989: "... Ele se diz desenhista. Confessa que tem medo de óleo. Não quer parecer um desenhista colorindo desenhos. Aqui nesta exposição estamos vendo desenhos a lápis, lápis de cor, bico-de-pena e poucos óleos. É bom em tudo..." Bruno Pedrosa é um artista de talento. Também é um ser humano singular. Buscador da justiça. Conversador culto. Conversador natural e espontâneo. Com o grande é o pequeno. Com o sabido e o acabrunhado. Com todo mundo é o que é. É um filósofo: "o amor é uma gradação dos sentidos: começa pela necessidade de ver e termina por não saber viver
longe do objeto amado". É um ledor contínuo do mundo. Sempre armazenando conhecimentos. É ainda escritor, manejador da palavra. "O Neto do Meu Avô", ainda em apostila, é um livro de aspecto autobiográfico. De linguagem curiosa e agradável. Livro de memórias. De história de sua vida. Narrada de modo diferente. Que não cansa. Que leva a gente num crescendo de curiosidade. Para conhecer Bruno Pedrosa, em profundidade, em sua cosmovisão, em sua concepção de vida e das coisas, com sentimentos, gestos e atividades, basta a leitura de O Neto do Meu Avô. São 128 páginas de Gente. De gente / Bruno. De Bruno de dentro e de fora. Sobretudo de dentro. E ai você tem um Bruno filósofo. Um Bruno espontâneo e feliz. Um Bruno saudoso (sem melosidade). Um Bruno original. Preocupado com tudo: com o outro. Com tanta injustiça. Com Deus. Um Bruno sofredor. Um Bruno teimoso. Como viver sem teimosia? A gente tem que ser teimoso para poder viver. Teimar contra as injustiças. Contra o egoismo das pessoas. Contra a indiferença dos que têm. Contra a violência. Contra a roubalheira. Contra a corrupção. Contra a poluição. Contra tudo e quase contra todos. E mais: você vai conhecer um Bruno peregrino do mundo. Porque, além dos lugares citados, acrescentem-se: Bolívia, Peru, Chile, Equador, Costa do Pacífico, de Temuco, Sul do Chile até Quibdó vizinho a Medelin na Colômbia desertos de Nasca e Arequipe, Autofagasta Huasco e Lá Serena, pelas areias sem vida das montanhas de Machu Pichu nos banhos das águas verdes de Urubamba, "rio digno de um Deus que tudo criou grandiosamente". Sem cansaço Bruno Pedrosa caminhou pelo vale dos Incas e outros lugares.
Expressiva e belamente. Bruno Pedrosa escreveu: "Fazendo-me minha estrada de vagabundo (vagabundo sem ser aposentado...) por esses lugares amontoados de história (bonito achado linguístico) açoitados pela magia dos mistérios e destruídos pela avareza insaciável dos espanhóis senti-me imenso e antigo. Velho como o próprio mundo eterno e imperecível como os deuses e as montanhas que formam aquela cordilheira". É verdade: o Autor, neste livro, não deixa melancoias nem melosidades. Deixa, sim, sua pessoa por inteiro. Sem nada de mais. Sem nada de menos. Muita gente já disse muita coisa sobre Bruno Pedrosa. É bom transcrever alguns depoimentos. A começar por Jorge Amado, que, em 1981, escreveu: "A pintura mais recente de Bruno Pedrosa mantém elos de continuidade nem sempre perceptíveis com os seus bicos de pena de uma fase anterior. Se nesta predomina o sentido construtivo, a primeira parece privilegiar as fontes da emoção. Mas, assim como nos bicos-de-pena esses elementos duramente emotivos encontram-se contidos no arcabouço de rigor a pintura se transmite em termo de uma contenção, de umd disciplina, o que seria enganoso negligenciar. Os bicos-de-pena mostravam-se assépticos, ascéticos, comedidos: a pintura sai gritante, expansiva. mais clamor do que comentário. (No entanto, ela continua a manipular, a seu modo, a mesma dualidade natureza / cultura que já se definia com toda clareza no desenho)". O embaixador Paschoal Carlos Magno, em 1976, se expressou: "Um jovem desenhista manipulando a linha com desenvoltura e sensibilidade extraordinárias dentro de uma conceituação decerto tradicional desse meio de expresão, porém dotada de uma vitalidade e de uma imaginação que realmente fogem ao comum. Senhor de recursos técnicos e sobretudo de uma força poética que raramente é possível ver nos artistas atuais, eis que desde logo me parece Bruno Pedrosa, cuja arte é-me apresentada de chofre, sem que nem um só momento tivesse eu duvidado ter diante dos olhos a obra de uma autêntica e cabal vocação artística". "Pedrosa -30 Anos de Arte - 1970/2000" - foi uma exposicão apoiada pela Embaixada do Brasil, na Galeria Portinari Piazza Navona - Palazzo Pamphili - Roma. Dezessete a 6 de novembro de 2000. O depoimento, em italiano, é do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Como é de fácil tradução, fica mesmo em italiano, o que disse nosso representante na Itália, por ocasião dessa exposição em homenagem aos 500 anos do Brasil:" Bruno Pedrosa è uno dei importanti pittori Del Brasile. Per questo é uno onore poter accogliere nella Galleria Candido Portinari, nell'anno in cui celebriamo i 500 anni della scoperta del Brasile, questa mostra che cosi bene
riassume i trent'anni della sua carriera artistica. Carriera questa che da dieci anni si svolge nella città di Bassano del Grappa, ne, Veneta. Nato nello Statu Del Ceará, Nordest del Brasile, I'artista vive oggi nel Nordest d'Italia".(...)"La pitura di Pedrosa celebra i colori e le forme in una sintesi di memorie antiche e recenti. Si tratta de un'arte estremamente sensoriale, che non privilegia soltando il senso della visione ma ci permette quase di toccare, assaporare le forme e gli oggetti ritratti, lasciarsi portare del suo ritmo -che può bemessere quello Del "xaxado" o del "baião", ritmi della regione dove è nato". Espere, já sei: o depoimento foi longe. É, foi longe e foi longo. Mas não é cansativo nem é falso. E muitos outros estão por ai: em livros em revistas em jornais na boca do povo. Na boca do mundo. Sim, porque Bruno Pedrosa está no mundo, é do mundo. Pode ser massante, por ser repetição, mas tem-se á frente o resumo cronológico das exposições de Bruno Pedrosa:
1967: Brasil - Crato. Centro Mostras.
Brasil - Olinda. Museu de Arte Contemporânea.
Brasil - Natal. Prefeitura Municipal de Natal
1968: Brasil - Niterói - Galeria da Escola de Belas Artes.
Brasil - Niterói - Museu Antônio Parreiras
Brasil - Brasília. Centro Cultura do Distrito Federal.
Brasil - Niterói. Iate Clube Itacoatiara.
1969: Brasil - Rio de Janeiro. Galeria do Banco do Estado da Guanabara
Germânia - Düsseldorf. Galeria Zimmer.
1970: USA - New York. Galeria New Torms.
Uruguay - Montivideo. Centro de Artes e Letras.
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Associação Brasileira da Imprensa (ABI)
Brasil - Niterói. Primeira Expo-Rio.
1971: Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Escada.
Brasil - Cuiabá ( MT). Museu de Arte.
Brasil - Salvador. Galeria do Oficio Português de Leitura
1972: Brasil - Rio de Janeiro. Museu de Arte Moderna.
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Copacabana Palace.
Colômbia - Bogotá - Galeria San Diego
Colômbia - Bogotá - Biblioteca Luiz Angel Arago.
Brasil - Niterói. Galeria Lê Chat.
Brasil - Crato. Museu de Arte do Crato.
1973: Brasil - Crato. Museu de Arte Moderna
Brasil - Rio de Janeiro. Centro Cultural Lume.
Brasil - São Paulo. Museu de Arte Contemporânea (USP)
Equador - Quito. Museu de Arte Moderna e Casa de Cultura.
Lima - Peru. Sala de Arte da Petroperu.
USA - Washington. Gallery Brasilian - American Institute.
1974: Argentina - Buenos Aires. Museu Del Grabado
USA - Tennessee. University of Tennessee.
USA - Phoenix. Phoenix Museum.
Brasil - Olinda. Museu de Arte Contemporânea.
Brasil - São Paulo. Galeria Solar.
Brasil - Belo Horizonte. Instituto Cultural Brasil - EUA
Uruguay - Maldonado. Museu de Arte Americana.
1975: USA - Sunnyvale. Cherry Chase Festival.
México - Cidade do México. Palácio das Artes.
México - Cidade do México. Galeria Juan Martin.
USA - Washington. Gallery of Panamerican Union.
USA - Minneapolis. Galeria Bristol.
USA - New Haven. Galeria Contorier
Brasil - Fortaleza. Casa de Cultura Raimundo Cela
Brasil - Crato. Casa de Cultura da Prefeitura Municipal.
1976: México - Chulula. Universidade das Américas.
México - Cidade do México. Galeria Juan Martin
Nicarágua - Manágua. Museu Ruben Dario.
1977: Brasil - Santos. Galeria Centro Cultural.
1979: Brasil - São Paulo. Museu de Arte de São Paulo (MASP)
USA - New York. Museo d'Arte Contemporanes Ispanica.
Brasil - Curitiba. Galeria Acaiaca
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Casa do Estudante.
1980: Brasil - Niterói. Centro Cultural Carlos Magno
1981: Argentina. Buenos Aires. Galeria Vieux Paris Brasil - Niterói. Galeria Associação Médica Fluminense.
1986: Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Villa Bernini Brasil - Niterói. Centro Cultural Paschoal Carlos Magno
1988: Brasil - Nova Friburgo. Centro Cultural de Nova Friburgo.
1989: Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Artlivre.
Brasil - Rio de Janeiro. Mós Antológica, Petrobrás.
1990: Itália - Manta. Igreja de Santa Maria do Mosteiro.
Itália - Cuneo. Galeria Etruria.
1991: Brasil - Niterói. Museu do Ingá.
Svizzera - Coppet (Genebra). Galeria Abisa.
1992: Itália - Castelfranco Veneto. Galeria Flaviostocoo.
Itália - Padova. Fiera d'Arte Contemporanea
Itália - Bassano Del Grappa. Pick Bar.
1993: Itália - Cuneo. Galeria Etruria.
Svizzera - Lugano.. Galliani Arte Contemporânea.
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Bonito.
Itália - Padova. Fiera de Arte Contemporanea.
1994: Itália - Manta. Igreja de Santa Maria do Mosteiro.
Itália - Bassano Del Grappa (VI) Galeria Scrimin.
Itália - Mestre (VE). Galeria Brunello
Itália - Milano. Consulado Geral do Brasil.
Itália - Monza. Mostra Internazionale dell' Arredamento.
1995: Itália - Veneza. Galeria Percorso d'Arte 90.
Itália - Seregno (MI). Galeria Silva Arte.
1996: Itália - Strá (PD) Museo Villa Nacionale Pisani.
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Anita Sohwarta
Itália - Veneza. Igreja San Nicolo.
1997: Holanda - Neede. Galeria Needien.
Itália - Padova. Fiera d' Arte Contemporanea
Itália - Udine. Fiera d'Arte Contemporanea
1998: Austria - Graz. Galeria Dida.
Germania - Bad Berleburg. Galeria Gerhard.
Brasil - Rio de Janeiro. Galeria Anita Schwartz.
Itália - Veneza. Galeria Daniele Lauchetta.
Espanha - Madrid. Arco 98
Itália - Udine. Fiera di Arte Contemporanea
Itália - Bassano. Del Grappa (VI) Galeria Scrimin.
Itália- Padova. Arte Fiera 98
Itália - Bari. "Expo Arte Bari".
Itália - Lago d'Iseo (BS). "Arte a Monteisala".
Itália - Riva Del Garda (TN). "Colore e Poesia".
1999: Itália - Veneza. Galeria d'Arte Sante Moretto.
Itália - Bassano Del Grappa. Galeria Scrimin.
Itália - Caltelfranco Veneto (TV). Galeria de Mom ART.
Brasil - Fortaleza. Galeria Inês Fiúza.
Itália - Padova. Fiera de Arte Contemporânea
2000: Itália - Bassano Del Grappa. Inauguração do Novo Estúdio.
USA - Washington. Brasilian-American Cultural Institute.
Germania - Colônia. Trinitais-Kirche / Gallerie Gehard.
Brasil - Fortaleza. Galeria Inês Fiuza.
Itália - Roma. Galeria Portinari
Itália - Roma. Art Gallery di Floriana Tondinelli.
Itália - Padova. Fieira d'Arte Contemporanea.
E tem mais coisas. E tem mais exposições. E tem mais muito mais arte por ai. E tem muito mais talento. Está lá o nosso artista, no Nordeste da Itália, inquieto e diversificado, impressionado com a beleza das montanhas italianas e com o pitoresco das cidadezinhas que, aos milhares as povoam, encarapitadas no alto, como se tivessem sido coladas ali transportadas em helicópteros e atacadas com cola. Bonita imagem esta de Bruno Pedrosa. Nestes cenários, hoje está bebendo oxigênio que dá vida à arte e inspiração para sua criação. Pois é: Lá longe, vai o nosso Artista deslumbrando o mundo. Aqui perto está a Vila Mangabeira para as bandas do Sul do Estado, pequena, carente, pobre, cheia, contudo de orgulho e vaidade de haver sido o berço do artista dos traços, das linhas, das cores, das esculturas, cujo fadário é correr o mundo levando sua arte, fazendo história e borrando - como ele mesmo diz - as telas e criando os filhos. É verdade: Mangabeira se sente grande porque, de lá saiu para o mundo o poeta do desenho. O poeta do bico-de-pena. O poeta do lápis. O poeta das cores. O poeta das formas. O poeta das camadas de tinta. O poeta dos detalhes. Bruno Pedrosa. Nem precisava haver você lido tanta coisa sobre Bruno Pedrosa (e tanta coisa que não foi dita), basta deleitar-se com os quadros a seguir. E é o que você deve fazer.
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Foto de Bruno Pedrosa. |
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Foto de Bruno Pedrosa. |
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Foto de Bruno Pedrosa. |
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Foto de Bruno Pedrosa. |
(Trecho do livro - O Neto do meu Avô - para o leitor ajuizar que Bruno Pedrosa, além de artista dos traços e das tintas, é também um lutador com a palavra. Vamos chamar a este excerto de:
Nas Férias
No dia da chegada, quando eu descia do carro na Vila São José, o coração que vinha fechado e escuro, se abria como aquela planta Jericó, vocês conhecem? Não? Então eu explico: parece um raminho murcho, mas se a pomos dentro de um copo de água, imediatamente fica verde. Aquela terra somos nós - já dizia Mãe Tia. Sua poeira está no nosso sangue, ou nosso sangue está embebido nela? Aqueles tabuleiros que me eram familiares, aqueles baixios, o riacho com resquícios das enchentes do inverno, as canafistulas, os trapiazeiros, com que tantas vezes saciei minha fome; o Serrote do Taquari e a Serra Negra com o seu perfil recortado no céu vermelho do poente. Para mim era tudo belo, mas poucos dias depois, começava a sentir falta do Rio, da vida cultural e mundana da metrópole. E fui abreviando minhas estadas ali, até quando, morrendo primeiro minha avó e, um ano depois, meu avô, o sol se pôs nos Torrões, e cortei, para sempre, minhas amarras como sertão, onde já não mais me esperava o Velho Raimundo André, para saber. pela minha boca, "das novidades do mundo". Apagou-se na sua rede como um meteoro nas águas do mar. Mas o clarão com que fisgou o céu de minha vida, na infância e adolescência, nos Torrões, é inapagável no meu coração. Não voltei nunca mais para demorar-me como fazia antes. Não gosto de deserto - e não existe deserto maior do que uma casa vazia. Os armadores do alpendre sem rede, as redes sem gente dentro. Para mim aquela visão - mal comparando - era como o mundo feito por Deus depois que Deus foi embora dele. Analisando à distância de trinta anos, vejo que aquela casa é hoje para mim, mais do que tudo, um ponto de referência, uma lembrança, uma saudade, um sonho, às vezes um pesadelo. Uma Jerusalém a que, na degradação da mísera diáspora, eu me agarro como um náufrago a sua última esperança de salvação. Hoje, mergulhado nessas lembranças, encalho aqui nestes Alpes frios, olhando a neve cair e o tempo passar, recordando, como posso, esta minha estrada, lembrando sempre o meu distante sertão e a observação que me fez Pai Doca naquele dia, embaixo do alpendre dos Torrões: "Meu filho, num lugar que não tem rapadura não se pode viver". Faço muita farofa e conto minhas histórias, mas tenho consciência de que aquele não é mais o meu mundo, desgraçadamente. Criei necessidades, hábitos e novos costumes que não me permitem mais morar ali onde fui feliz um dia. Não perdi aquela felicidade, transportei-a e transtormei-a para esta nova vida de além-fronteiras e além-mar, como dizem os portuguêses, porque descobri com o passar dos anos que a felicidade é antes uma fantasia da imaginação do que uma sensação objetiva da realidade. Guardo, porém, os conselhos de Pai Doca, e mirando neles, é que procuro viver este meu cotidiano ambulante. Hoje aqui, amanhã, sabe Deus onde, como já disse lá atrás, mas sempre rodeado pelas minhas lembranças, dos papéis que documentaram a trajetória dos meus na travessia dos tempos, dos objetos que fazem presença daqueles que deixei ou que me deixaram na estrada da vida. Tantos que já não estão comigo ou que já se foram, ai de mim, cuja fraternidade me faz falta como parte de meu corpo ou substância de minha alma. (...)
Nas Férias
No dia da chegada, quando eu descia do carro na Vila São José, o coração que vinha fechado e escuro, se abria como aquela planta Jericó, vocês conhecem? Não? Então eu explico: parece um raminho murcho, mas se a pomos dentro de um copo de água, imediatamente fica verde. Aquela terra somos nós - já dizia Mãe Tia. Sua poeira está no nosso sangue, ou nosso sangue está embebido nela? Aqueles tabuleiros que me eram familiares, aqueles baixios, o riacho com resquícios das enchentes do inverno, as canafistulas, os trapiazeiros, com que tantas vezes saciei minha fome; o Serrote do Taquari e a Serra Negra com o seu perfil recortado no céu vermelho do poente. Para mim era tudo belo, mas poucos dias depois, começava a sentir falta do Rio, da vida cultural e mundana da metrópole. E fui abreviando minhas estadas ali, até quando, morrendo primeiro minha avó e, um ano depois, meu avô, o sol se pôs nos Torrões, e cortei, para sempre, minhas amarras como sertão, onde já não mais me esperava o Velho Raimundo André, para saber. pela minha boca, "das novidades do mundo". Apagou-se na sua rede como um meteoro nas águas do mar. Mas o clarão com que fisgou o céu de minha vida, na infância e adolescência, nos Torrões, é inapagável no meu coração. Não voltei nunca mais para demorar-me como fazia antes. Não gosto de deserto - e não existe deserto maior do que uma casa vazia. Os armadores do alpendre sem rede, as redes sem gente dentro. Para mim aquela visão - mal comparando - era como o mundo feito por Deus depois que Deus foi embora dele. Analisando à distância de trinta anos, vejo que aquela casa é hoje para mim, mais do que tudo, um ponto de referência, uma lembrança, uma saudade, um sonho, às vezes um pesadelo. Uma Jerusalém a que, na degradação da mísera diáspora, eu me agarro como um náufrago a sua última esperança de salvação. Hoje, mergulhado nessas lembranças, encalho aqui nestes Alpes frios, olhando a neve cair e o tempo passar, recordando, como posso, esta minha estrada, lembrando sempre o meu distante sertão e a observação que me fez Pai Doca naquele dia, embaixo do alpendre dos Torrões: "Meu filho, num lugar que não tem rapadura não se pode viver". Faço muita farofa e conto minhas histórias, mas tenho consciência de que aquele não é mais o meu mundo, desgraçadamente. Criei necessidades, hábitos e novos costumes que não me permitem mais morar ali onde fui feliz um dia. Não perdi aquela felicidade, transportei-a e transtormei-a para esta nova vida de além-fronteiras e além-mar, como dizem os portuguêses, porque descobri com o passar dos anos que a felicidade é antes uma fantasia da imaginação do que uma sensação objetiva da realidade. Guardo, porém, os conselhos de Pai Doca, e mirando neles, é que procuro viver este meu cotidiano ambulante. Hoje aqui, amanhã, sabe Deus onde, como já disse lá atrás, mas sempre rodeado pelas minhas lembranças, dos papéis que documentaram a trajetória dos meus na travessia dos tempos, dos objetos que fazem presença daqueles que deixei ou que me deixaram na estrada da vida. Tantos que já não estão comigo ou que já se foram, ai de mim, cuja fraternidade me faz falta como parte de meu corpo ou substância de minha alma. (...)
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Capa do livro O Povo do São José de Bruno Pedrosa. Foto da Internet. |
BRUNO PEDROSA.
Fonte: (Extraido e adaptado do blogger Conversa Piaba).
Bruno Pedrosa nasceu em São José das Mangabeiras, distrito de Lavras, no dia 11 de janeiro de 1950. Com 18 meses de nascido, ficou órfão de mãe. Foi registrado, no batismo, como Raimundo Pinheiro Pedrosa. Raimundo em homenagem ao avô que o criou. Bruno é o nome religioso que escolheu, em 1975, ao entrar para a ordem beneditina, atraído pela vocação do claustro.
Ele fez os estudos primários no Seminário do Crato. Quando se tornou artista plástico, depois de concluir o segundo grau em Fortaleza, seu sonho era cursar a Escola Nacional de Belas Artes. Chegou ao Rio em 1968. Tinha acabado de fazer 18 anos. No contato com a realidade, desistiu do curso de pintura, matriculando-se como aluno de História da Arte.
Aos 25 anos, já formado, passou por uma crise mística ao ler o livro “A Montanha dos Sete Patamares” do monge americano Thomas Merton. Foi admitido no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde viveu em clausura, por cinco anos, de 1976 a 1981, mas não chegou a ordenar-se.
Foi apoiado no início da carreira artística por uma fundação americana, a Bristol, que lhe encomendou, muito jovem, uma série de albuns sobre a arquitetura colonial sul-americana. O desenho era sua forma de expressão. Só mais tarde descobriu na pintura abstrata a verdadeira vocação.
Bruno Pedrosa é casado com a arquiteta Lila Garnero, filha de italianos, que conheceu em Ipanema. O casal morou primeiro em Nova Friburgo, no estado do Rio. Em 1990, mudou-se para Bassano del Grappa, perto de Veneza. Bruno, a mulher dele e as duas filhas moram numa casa, em cima da histórica Ponte dos Alpinos, projetada e construída, em 1546, por Andrea Palladio, um dos grandes arquitetos da Renascença. Apaixonado pela genealogia, Bruno orgulha-se de ter, na sua biblioteca, quase tudo quanto se escreveu até hoje sobre a História do Ceará.
Seu lema na vida, conforme se lê numa entrevista, resume-se nesta frase: “É bom rumar para as Índias e encontrar a América”. Tradução: “O cotidiano metódico me dá segurança mas o imprevisto na vida me fascina”.
Além de artista plástico Bruno também é escritor e recentemente publicou seu livro O Povo de São José.
IMAGENS.
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