Padre Amorim.

Foto do Blog Santuário
de Fátima.

MANOEL LEMOS DE AMORIM (PADRE)

Fonte: (Extraido do Livro Mangabeira nas artes nas letras no mundo de Dias da Silva).

Manoel Lemos de Amorim é padre. Da igreja católica e apostólica. E já vai bem dentro dos anos. Todos vividos intensamente. Saído de todos vitorioso. (Cada ano que a gente atravessa é como uma conquista. Como uma vitória. É como um milagre da vida. Porque está tão dificil a gente passar pelos anos.) Pois é: sempre cheio de vida. O entusiasmo brincando sempre no rosto. Sempre espalhando alegria. Em toda esta fileira de anos. Porque Manoel Lemos de Amorim nasceu em 27 de julho de 1929. Lá na Vila São José. Não sei por que lhe mudaram o nome: agora é Mangabeira. A gente tem a impressão de que não é a mesma coisa. Que não diz a mesma coisa. Que Mangabeira não é São José. Só não deixou de ser distrito. Só não deixou de ser de Lavras da Mangabeira. Mangabeira de Lavras. Lavras da Mangabeira. É tanta mangabeira. E é porque aqui nem lá tem mangabeira, árvore da familia das apocináceas. É assim que está no dicionário. Pois muito bem: ele nasceu ai. No São José das ruas empoeiradas. No São José de Mãe Velha. No São José dos Amargosos. Da Cacimba da Pedra. Do caminhão de Zé Mandinga. Veloz, alvoroçando a Vila, avermelhando tudo de tanta poeira vermelha. Porque as ruas de São José eram pequenas e em terra. O sino eloqüente, na igrejinha, parecia dizer que nascera, numa daquelas casas, mais um padre para a messe tão grande. Sim, porque Manoel Lemos de Amorim veio a ordenar-se anos depois. Claudino Amorim de Souza e Maria Senhora Lemos de Amorim - seus pais. Deus foi bom para eles. Permitiu-lhes vida longa. Vida bonita. Aos dois. Sempre felizes. Nunca Ihes vi qualquer sombra de tristeza ou rancor no rosto. Sempre juntos. Um ao lado do outro. Ali. Lutando sempre e vencendo sempre. Dificuldades vencendo. É verdade: quem não as tem na vida? Dificuldades para criar a penca de filhos. De dez filhos. Claudino Amorim, homem batalhador. Claudino de Souza. Prudência e serenidade no rosto. Sempre. De fato: em vida, distribuiu mansidão e sabedoria. Era um homem manso e sábio com simplicidade. No cotidiano, dava lições de Mestre. Seu ombro foi sempre um ombro amigo aos necessitados. Sempre estirou a mão aos que caíam pelos caminhos. Os dois se comportaram em correção e honestidade. E o recém-nascido - Manoel Amorim - trazia, em potencial, essas qualidades.
A infância, passou toda a infância na Vila. Alternando com temporadas no Sítio Taquari. Com seu baixio estreito e fértil. Com suas ladeiras íngremes. Menino livre e feliz pelas pequenas ruas de São José. Feliz e livre pelos caminhos de barro e areia do Taquari. Até os 15 anos. (Não precisa dizer "de idade" - é redundância desnecessária.) Na verdade: teve uma infância completa. Porque pôde chutar uma bola. Porque pôde correr pelas ruas pequenas de São José. Porque pôde fugir da Escola de Dona Vicência Mota lá para as bandas do Taquari. Grande aventura esta: sair escondido da sala de uma escola para a liberdade do Campo. Só tendo coragem. E Manoel Amorim teve. Criança é assim mesmo: não tem medo porque para ela não há consequências. Um dia, contudo, fez uma aventara sem ventura: deixou, bem cedo, os livros na carteira e largou-se por ai em fora, voltando só às 18 horas. (Manoel Amorim foi fujão apenas na infância e somente de sala de aula e de livro. Sim, porque depois não fugiu de mais nada: nem da luta. Nem do desafio. Nem dos empecilhos. Nem dos problemas.) O castigo foi inevitável. A mãe Senhora aplicou-lhe uma surra das de azedar. Daquelas que doem, mas que não botam raiva na gente. É muito raro o filho ficar com rancor da mãe  porque apenhou... ldade: entre 10 e 12 anos. E a pena não parou por ai: havia de rezar a novena de N. S. do Perpétuo Socorro, o que fez chorando juntamente com os irmãos, que, sem culpa, tiveram o mesmo castigo. (Lembro que minha mãe fez isso uma vez com a gente lá em casa: todos apanharam e ninguém era culpado.) Bem. Novena - Você sabe - são 9 noites de reza. Primeira, segunda, terceira... "Na ordem, que noite devo rezar? - perguntou. - "Qualquer noite serve, contando que crie juízo para as noites e os dias que você tiver daqui para a frente" - a mãe falou. Já era ela dando lições sábias. Não sei se a Santa veio em socorro de Manoel Amorim. Como interessantes, misteriosas são as coisas da vida: a gente apanha da mãe - já disse isso - e a gente não fica com raiva dela. Dir-se-ia que o aconchego materno fica melhor, faz é aumentar. Parece que a mãe se torna mais mãe. Ao depois, a gente agradece os ensinamentos entremisturados com castigos e penas. É assim.
Pelo jeito o nosso ersonagem, em criança, era meio sapeca. Criança viva. Era. Já de iniciativas corajosas. (Fui uma criança medrosa: tinha medo de tudo... Até de mim mesmo. Mas é da gente que a gente deve ter medo). Somando-se às brincadeiras infantis tantas outras atitudes, Manoel Amorim
apreciava ajudar a missa. De quando em quando, o vigário de Lavras - como me lembro do Padre Alzir Sampaio! - vinha a São José e o menino Manoel lá estava, na igrejinha. Pronto. Jeito de gente grande. Ajudando nas cerimônias. Com certeza era já o pendor ao sacerdócio acordando-lhe a alma aos poucos. A primeira professora das primeiras letras chamava-se Vicência Mota.( Vicência Mota foi professora de tanta gente em São José.) Até o terceiro ano primário. Professora exigente, dona Vicência. Tirou a ignorância de muitos. Aos sábados, a palmatória arrancava lágrimas de quem não soubesse a tabuada de cor. Manoel Amorim sabia sempre a tabuada de cor. Na ponta da língua. Tinha que bater nos colegas que erravam os números. Fazia-o com tristeza, forçado. Querendo chorar por dentro. Parece que já começava a ver no outro o amigo. O irmão. Como está tão dificil a gente ver no outro um amigo. Um irmão. A gente nem pode mais dizer isso. O homem está sendo o lobo a outro homem. Intelizmente. Mas era: já era o menino Manoel querendo lutar contra a violência. Querendo fazer ao outro o que desejava que Ihe fosse feito. O quarto e o quinto ano primário, fê-los  com a professora Maria Oliveira. Sentiu-se engrandecido e orgulhoso por ser aluno de professora tão jovem. Porque Maria de Oliveira era uma jovem professora. Tão preparada. Tão de muitos conhecimentos. Que fazia poesia e era compositora. Sobremodo crescia-lhe a vaidade pela escola moderna que era a escola de Maria Oliveira. Sem castigos pesados. Todos respeitando todos. Escola de gente para gente.
Era assim: duas professoras e dois métodos de ensino. Ambas, todavia, preparadas, sabidas e amigas.
Só o estar vivo ja é privilégio. O poder levantar toda manhã já é milagre. Poder ver as cores e ouvir as melodias é milagre. Olhar o mundo. A natureza. As coisas. É milagre. Assim, Manoel Amorim só milagres tem na vida. Além de tudo isso, teve a vida de estudante marcada pelo sucesso. Nunca lhe aconteceu reprovação nos estudos. Apesar das fugas da escola... Sempre amigo de todos. Dos colegas. Dos mestres. Gostou sempre da vida. Até hoje. É, quem tem tudo isso na vida é um vitorioso. É um agraciado da sorte. Nasceu sob um signo bom. É um mimoseado do destino. Manoel Amorim tem sido mimoseado, agraciado, vitorioso.
Das escolas de São José, Manoel Amorim saltou para o Crato. Para o Seminário São José, (São José estava sempre com ele). Seminário Menor. Seis anos de estudo. De preparação e formação. Gostou de matemática. Com certeza, a tabuada decorada da professora Vicência Mota muito lhe valeu. Talvez alguma palmatoada... Porque D. Vicência Mota exigia saber de cor todas as casas da tabuada. Não há por que fazer tal esforço, hoje. As calculadoras e os computadores trazem tudo pronto. Tudo fácil. Tudo de repente e automático. A mente humana não precisa pensar muito e "mente ociosa é moradia do demônio". Suas leituras era Monteiro Lobato. Malba Tahan, padre Negro Monte e livros, livros outros específicos de formação de jovens. E você sabe que "o hábito de ler nos permite entrar em contato com a experiência de pessoas mais cultas, mais vividas, mais sofridas, mais velhas, de outra cultura, outra época e outra raça, sem necessidade de sua presença fisica". No Seminário Maior, em Fortaleza, buscou conhecer, em profundidade, a História da Igreja e a Filosofia que muito apreciou. Entre os anos de 1961e 1963, Manoel Amorim fez curso superior de Psicologia, em Porto Alegre. Sempre buscando saber mais. Conhecer mais. Pois é: Manoel Lemos de Amorim, pelos anos em fora, estudou, leu (lê), acumulou conhecimentos, armazenou idéias, conceitos e sentimentos. Escrever, contudo, nunca lhe foi prioridade. Aqui e ali fazia rápidas incursões pela escrita. Como tentativas, só. Não por falta de matéria-prima. Porque
tinha-a em abundância. Sabe-se que não se escreve como se fala. Impossível mesmo. Escrever é um ato solitário. O escritor está só, com um lápis, um pedaço de papel em branco, diante de uma mesa, forjando diálogos, e criando personagens. Na fala, não, na fala a gente usa muitos outros recursos: ajuda do interlocutor, o entonação, as mimicas, gestos e trejeitos. É, não se escreve como se fala. O que se pode ter é uma escrita espontânea e leve, natural e flexível. Manoel Amorim tem uma comunicação fácil, leve e simples. Nas homilias, por exemplo sabe como atingir o ouvinte.
Um desejo forte Ihe martela o íntimo: um dia escrever sobre a vida dos seus pais. Com certeza teria muita coisa bonita para dizer. Muita coisa bonita encheria muitas páginas bonitas. Por que não fazê-lo? Sei que o único conselho sobre escrever que uma pessoa pode dar a outra é não seguir conselho. Pois bem, padre Amorim não siga conselho de ninguém, mas escreva. Escreva a história de seus pais. A primeira publicação foi uma coletânea de aulas, no ano de 1962, sobre Psicologia Aplicada á Ascética e Mística, na Faculdade de Filosofia de Crato. A pedido dos alunos. Edição logo esgotada. "Para mim uma vitória: todos os alunos adquiriram um exemplar". Assim o sucesso da edição lhe botou coragem e entusiasmo. Decidiu ir à frente. Em 1963 é a vez de Lições de Sociologia, no Crato. Em Roma, em 1967, escreveu "Papel do Padre na Comunidade". Pois não: entre os anos de 1960 e 1976, Manoel Amorim esteve em Roma. Nesse ano, publicou "Desenvolvimento da Comunidade Brasileira". Em preparação ao ato de escrever, Manoel Lemos de Amorim trabalha mentalmente tudo que deseja colocar no papel. Após o que vai jogando tudo rapidamente em borrão. Às vezes desordenadamente. Só escrevendo. Sem ordem. Sem nexo. Em outro momento, lê tudo vagarosamente.E ai vai arrumando as coisas. Concatenando idéias. Adequando expressões. Cortando palavras (escrever é cortar palavras). Arrumando frases. Diminuindo. Substituindo termos. Enxugando a linguagem. E lá está o texto definitivo. Muito mais objelivo. Muito mais apurado. Muito mais texto. E muito acertadamente faz o padre Amorim. O que acontece é que o nosso amigo padre Amorim tem assim um pensamento pessimista em relação ao texto. Ao ato de escrever. Julga-se incapaz de fazê-lo. Acha que não vai conseguir e o texto toma vulto. Que nunca vai escrever como tantos outros e livros seus bons são publicados. Parece-me muito severa a sua autocrítica. Quase se anulando. Conheço o conterrâneo. É uma mente rica de idéias. De conhecimentos. De cultura fecunda. De leituras tantas, não obstante o acúmulo de trabalhos e da escassez de tempo. Porque padre Amorim é o vigário de Fátima, onde as atividades são intensas. Padre de iniciativas tantas. De criação fértil. Mas esta sombra de desânimo é somente quanto ao áspero oficio de escrever. O importante, padre Amorim, é escrever. Do jeito que a gente sabe. Quando a gente escreve qualquer coisa, dá-se tudo da gente. É sempre o melhor que a gente pode fazer. Sempre o mais perfeito. E sempre tem valor o que a gente escreve com simplicidade. Sei que, às vezes, ou melhor, quase sempre, tem gente para dizer que não presta o que a gente escreve. Que anula logo o que se produz. Mas é assim mesmo. Há sempre pessoas desmanchando o que se construiu. Mas há sempre gente destacando o que se fez. O mundo é contradição. A vida é contradição. Como disse: Manoel Lemos de Amorim é padre. Há bastante tempo. Da paróquia de Fátima, em Fortaleza. Onde realiza um trabalho bonito. Fátima é hoje uma paróquia dinâmica. A gente percebe nas pessoas a consciência religiosa. São igreja com convicção. Não o são por emoção. De religião de momento. De religião de ambiente. Há exemplos assim. De cristãos assim. Desde 1967, padre Manoel Lemos de Amorim é professor da UECE. Também, no momento, é membro do Conselho Estadual de Educação, marcando, assim, presença forte em outras atividades e áreas a que tem trazido beneficios inúmeros. Sem dúvida, muito salutar para o enriquecimento de vida esta convivência e troca de experiência no campo da educação. Tudo isso só o faz crescer como padre e como cidadão. Vale a pena transcrever um pequeno trecho, dado em resposta a: se você é poeta, envie 3 ou 4 poemas; se é artista... do formulário a ele encaminhado. É assim: "Não sou poeta nem artista nem pintor, nem escritor nem ensaísta. Sou apenas um padre que diariamente escuta pessoas, das 15 às 21 horas, e, pela manhã, lê, escreve, repousa; agora, segunda, terça, quarta, de 8h30min às 12h, participo de reuniões do Conselho. Gosto do que faço, gosto de gente, gosto da vida, até os sofrimentos, em certo sentido, me agradam, pelas lições de vida que me ensinam". É verdade: o pequeno trecho acima deixa a gente curiosa para ler textos mais longos do Padre Amorim.

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