Mangabeira Ceará.
Sete Maravilhas de Mangabeira.
Foto de Cícero Lhyma.
Foto de Cícero Lhyma.
MANGABEIRA.
Fonte: (Extraido do Livro Mangabeira nas artes nas letras no mundo de Dias da Silva).
Começaram a dizer que era assim. Assim como? Sei lá! Bem, ficou sendo assim. Até hoje. Até quando? Também não sei não. Com certeza, até quando o pé do ouvido (é, o pé do ouvido da gente tem pé, falta-lhe é a cabeça) agüentar. Pronto: até quaado o pé do ouvido da gente agüentar. E as oiças (a gente pensa que é errado, não é, não, tem a palavra oiça), e as oiças da gente aguentam tanta coisa. Coisas boas. Coisas ruins. Coisas bonitas. Feias. De todo jeito. Pois é, amigo, foi o filósofo Spencer que disse: "Há sempre uma alma de bondade nas coisas más. Como há sempre uma alma de verdade nas coisas falsas". Sei não, mas as coisas falsas de hoje em dia - e são tantas e por todo canto - não têm nada de verdade. Só falsidade mesmo. Quem quiser pode pensar como Spencer. Viver é discordar. É concordar. É aumentar. É diminuir. Está vendo ai? A vida é feita de contradição. É bom, sim, a gente ser otimista de vez em quando. Ver algo de bom no que é mau (aqui é com "u" mesmo). No que é falso. Tem muita gente que encontra o Belo no Feio. No lixo. Na lama. No esterco. Como os bons poetas fazem-no muito bem. Os bons poetas, eu disse. Os bonzinhos só aumentam o Feio. Só amontoam lixo. Os mediocres só se enlameiam mais. Só se chafurdam mais. É assim mesmo, amigo, quando a coisa pega é fogo. Daqueles que não se apagam. Daqueles que queimam e ardem, e doem. Porque há fogo que queima e arde sem doer. Outro que dói sem queimar. Outro que arde e queima sem doer. O fogo da paixão, por exemplo. O fogo do egoismo. O fogo do amor... É, tem fogo de todo jeito. E de todo jeito a gente sente esses fogos. Espere, volte-se à coisa. Coisa aqui é qualquer coisa: coisa/bicho. Coisa/gente. Gente/coisa. Coisa/coisa. Pode ser uma idéia. Diz-se por exemplo idéia fixa. Pode ser um apelido (acho engraçado quando alguém diz "apelidio"). Tem gente que chama "apodo". O nome é bonito. É diferente. De pouco uso. Tem gente dizendo "apodo" só pra dizer que sabe. Que tem vocabulário rico. A pessoa devia saber que está saindo é besta. Está sendo pedante. Por que dizer "apodo" se pouca gente sabe o que é isso? Ai nem há comunicação: o código é desconhecido para o receptor. Já estou começando a escrever confuso e difícil: "código", "receptor". Melhor do que "apodo" é "apelidio".
Pois é: são coisas assim que pegam. Não largam mais. Vai-se por todo buraco (hoje há buraco por todo canto: as estradas estão esburacadas e o governo não guardou nosso dinheiro nem para tapar buracos; buracos pelas ruas e os impostos que pagamos caem todos no buraco. Ah se fosse: pelo menos entupiriam os buracos. Nada disso: os impostos pagos caem nos bolsos. De quem? Sei lá! De tanta gente), espere eu ia dizendo que se vai por todo buraco e a coisa agarrada. Pegada (ou pregada) ali. Como moda. Diz-se que a moda pega todo mundo. Sei disso não. A moda só pega quem pode estar na moda. Muita coisa da moda nem pega porque muita gente - muita gente mesmo - não pode comprar para andar na moda. Tem ai uma história (é com "h" mesmo) de moda/verão, moda/inverno, moda não sei o quê. São roupas que se vestem só na hora dos desfiles, feitas para o próprio criador e para mais alguns amigos ricos. Assim, a moda pega. A moda não pega. Espere, eu quero me referir é a coisas que pegam mesmo. Como carrapato. Feito abelha de arapuá. Você conhece abelha de arapuá? Pode ser também irapuá. O dicionário diz tudo, diz que tanto faz. É só uma variante. Eta bicho pra pregar nos cabelos da gente. Só morta é que se desgarra. Pois é: há coisa assim. Eu já disse. Espere, eu chego lá: no que quero dizer. Na coisa que pega e prega. Pois não é que uma coisa assim pegajosa assim teimosa assim assim que nem carrapato agarrou Mangabeira! Para não sair mais. Para marcar por todo tempo.
Parece, contudo, que você quer saber logo o que significa Mangabeira, não é? Pois bem, vou logo dizendo o que não é. Não é árvore. Porque tem a árvore mangabeira. Que produz mangaba. Da familia das apocináceas. Nossa! Pra que esse nome científico? É mesmo, nem precisava. O negócio é o que interessa: frequente em cerrados. E no litoral nordestino. Claro, a mangabeira. Assim, Mangabeira não é mangabeira. Com "M" maiúsculo e "m" minúsculo respectivamente. É assim mesmo. Para dizer Vila e para dizer árvore. Só isso. E mais: nunca vi um pé de mangabeira. Você já viu? O que sei é que nasci em Mangabeira. Que nem era Mangabeira, era São José de Mãe Velha. São José dos Amargosos. Bem, podia ser de quem fosse - era São José. O caso, amigo, é que mudaram São José pra Mangabeira. Sem perguntar nada a ninguém: se quem tinha São josé queria Mangabeira. Se quem não tinha aceitava Mangabeira. Não se fez aquele negócio de nome bonito e esquisito - Plebiscito. Significa mais ou menos isso: resolução submetida à apreciação do povo. Pouca gente faz isso hoje. Decreta as coisas lá por cima e a gente tem de obedecer. Consultar o povo? A turma lá de cima tem medo... Espere, ia me esquecendo do plebiscito que não houve. A verdade é que ninguém nem sabia disso. Nem os próprios vereadores. Esses não querem nem saber. Não sei nem se foram eles que acabaram com São José para construir Mangabeira. Ou se deputados que escolheram Mangabeira riscando São José. O povo não foi, não. O povo, com certeza, estaria ainda hoje com São José. Santo poderoso e protetor. Mas árvore também protege. Dá sombra. Dá fruto. Oferece galhos para os ninhos. Para a casa dos pássaros. É, a árvore faz isso. E nada pede de volta. Interessante: o governo tem dinheiro (nosso) e não faz casa. E quando faz, exige pagamento que nunca termina. Só aumenta. Aliás amigo nunca pude entender esta matemática: quanto mais se paga mais se deve. As prestações não amortecem nada. Fazem é dar vida ao saldo devedor. E você termina pagando duas três vezes a mesma coisa. Bem fique isso lá com o... BNH com a CEF sei lá a gente nem sabe com quem.
O fato é que o povo perdeu a proteção de Santo tão poderoso para uma árvore que protege pouco. Que nem sequer existe no lugar. Porque Mangabeira aqui é um lugar. Lugarejo pobre. Meio perdido. Distrito de Lavras da Mangabeira. Ficou repetitivo: Mangabeira de Lavras. Que até hoje é distrito. Não sei por que até agora não chegou a cidade. A município. Lugares menores (de duas ou três ruas), mais lá atrás passaram da situação de distrito para a de cidade. Sede de prefeitura. De muitas coisas. Porque prefeitura tem muitas coisas. Tem até prefeito ruim. Prefeito que desvia dinheiro. Que em quatro anos fica rico. Sei não mas dizem que tem prefeito assim. Se ao menos devolvesse o que tirou... Não precisava nem de processo. Muito menos de cadeia. Mas o que acontece é que nem tem processo nem se devolve nada e nem pensar em cadeia. É salvo as exceções há prefeito safado. Bem poucos graças a Deus. Também se eu disser que são muitos vão querer que diga os nomes ou então vão me prender pelas denúncias vazias. Denúncia vazia - inventam cada nome. Se é vazia não tem nada. E aí já é calúnia. E não tem quem junte a calúnia espalhada. Nossa! Estou é me enrolando. Sei lá vão é me enrolar. Mas que há prefeito malandro há. Daqueles que são como cururu: a gente chuta e ele volta. A lei caça prefeito cassa-o depois e ele teima em voltar. Entretanto o assunto não é prefeito. Muito menos prefeito desonesto. Ainda bem que só existem os prefeitos desonestos porque existem os honestos. E estes mais que aqueles. Felizmente. O de que a gente estava falando era de outra coisa. De qualquer coisa que pega. Pois é: que coisa se grudou em Mangabeira? Distrito esprimido entre Lavras (que não tem lavras, pode ter larvas não sei de quê) Cedro (em que não sei se já houve cedro) e Várzea Alegre que não é várzea nem é alegre. Bem que não é várzea não é mas que tem várzea tem. Que não é alegre não. Até que é alegre. Sobremodo na festa do padroeiro nos carnavais nas vaquejadas nas apanhas de arroz. Diz-se que São Braz lá e São Raimundo.
Mangabeira não tem lavras - larvas pode ter, em todo canto há larvas, pois até gente pode ser larva. Larva humana. Não tem cedro, não tem várzea, não tem mangabeira, mas é Mangabeira; tem muita alegria nas festas de janeiro. Entretanto o que que tem que pegou em Mangabeira? Como abelha de arapuá? Como carrapato? Agora é que vem a coisa que pegou e pregou em Mangabeira: a fama de (lembre-se de que a fama é só o esquecimento adiado), a fama de quê? Cadê essa fama de Mangabeira? Em que consiste a fama de Mangabeira? A de distrito conhecido por todos? Pelo mundo todo? Pelos lá de cima? Pelos lá de baixo? Pra você ver: leu-se nos jornais - municipios encerram festas do padroeiro São Sebastião, 20 de janeiro. E lá estavam as cidades: Apuiarés, Choró, Ipu, Monsenhor Tabosa, Mulungu, Olinda e Pedra Branca. E cadê Mangabeira. O padroeiro de lá também é São Sebastião. Os festejos também se encerram lá no dia 20 de janeiro. É, o jornal esqueceu Mangabeira. Ou nem sabe que existe. Será
porque não passa de distrito? Será que é por isso? Está mais para o fato de que é por desconhecido mesmo. De não proporcionar retorno. De não valer muita coisa. E que história é essa de coisa que pegou em Mangabeira? Que fama é a fama que Mangabeira tem? Era pra ser conhecida por muito mais gente. Pelos jornalistas pelo menos. Não tem fama? Tem, fama tem.
Espere eu sou teimoso. Vou repetir: a fama não passa do esquecimento adiado. É aconselhável que quem tem fama não se empavone por isso. Que não se incha em demasia. Que não se ponha por cima de todo mundo levado pela vaidade. Que pense que fama passa rápido. Tão depressa passa a fama. Tem gente que porque tem fama não pisa no chão: o chão está sujo e cheio de gente sem fama. Gente que esmaga o outro para conservar sua fama. Que só olha por cima. Não há desculpa amigo. Você já sabe o que é a glória. É só isso mesmo...
Sei não. Ora, não sei. Sei, sim. Você sabe. Muita gente pode não conhecer Mangabeira. Mas todo mundo sabe que Mangabeira pegou a fama de terra de gente inteligente. Terra de gente sabida. Terra de gente de cultura. Terra de gente de conhecimento. Engraçado: tem gente que chega a dizer que Mangabeira é terra de gênio. Parece que há muitos sem saber o que é gênio. Ora amigo, todo e qualquer povo tem cultura, se a gente pensa como T.S. Eliot: "o conjunto das formas em que um povo vive do nascimento até ao túmulo, do amanhecer ao anoitecer e mesmo enquanto dorme". Pois é: cultura é esta maneira peculiar pela qual os homens cultivam suas relações com a natureza, entre si e com Deus, como estilo de vida, o que é consequência de seu caráter social. Assim esta fama é de todo povo. Do mundo todo. Terra de gênio? A gente está esquecendo a noção de gênio. Foram (são) poucos os que a humanidade produziu. A não ser que a ciência chegue à clonagem do gênio. E aí aonde vai a humanidade? Contam-se os que têm fama de gênio. É bem pouca gente. O certo é que é certo: muita gente sai por aí em fora com esta história - Mangabeira só tem gente inteligente. E as outras coisas: de cultura. De conhecimento. De Sabedoria. De gênio. É esta a fama que feito abelha de arapuá se agarrou ao distrito. Com unhas e dentes - é um dizer que diz isso. Essas coisas já ultrapassaram fronteiras. Essa fama não coube dentro de Mangabeira. E já vem de longe. Sem largar. E parece que ainda vai longe. Será que é assim mesmo? Mangabeira é terra de gente inteligente? De povo de Cultura e de conhecimento? Mais do que o povo dos outros distritos? Mais do que o povo de outras cidades? Mais do que o povo do mundo inteiro? Porque eu já disse antes: Mangabeira é um distrito pequeno. Maior, contudo, do que alguns outros que já passaram a cidade. A pobreza é a sua riqueza. Porque é um distrito rico de pobreza. Quase que de miséria também. Há uma verdade cruel por ai: muitas partes do mundo estão saindo da pobreza para cair na miséria. Muita gente está fazendo muita gente caminhar da pobreza para a miséria. Poucos muito ricos estão fabricando muitos miseráveis. Pela exploração. Pela ganância. Pelo anseio incontrolável do domínio. Pela indiferença. Pelo abandono. Pelo egoísmo. Por tantas coisas tantas. Abram-se os olhos que a miséria não está agüentando mais o faz-que-não-vê dos que têm. Dos que podem. Dos que fingem que não vêem. Essas pessoas teimam em ignorar que estão cavando a própria ruína. Que estão preparando para si dias ruins. É, amigo, agir assim, fazer assim é bom para poucos e por pouco tempo. Explorar menos, pisar o outro mais de leve,
espalhar mais tanta riqueza concentrada, ver gente no outro seria bom não apenas para poucos, mas para todo mundo. Vou-me sair pessimista agora (já não o sou por essência?):o estágio de não mais explorar, de dividir renda, de tratar outrem como gente que tem direitos, que sente, que se indigna, que tem familia, que adoece, que ri, que chora, que... é tanta coisa "quê" - é inatingível. Os poderosos nunca vão chegar lá. Sempre irão querer sempre mais. Vão querer tirar sempre mais. Pisar sempre mais forte. O poderoso egoísta não pensa que é o operário que o faz rico. Que lhe faz a mesa farta. Que lhe constrói a mansão. Que lhe permite férias em ilhas belas. Em nada disso ele pensa.
Puxa! Como a gente pega veredas e deixa a estrada principal. Estou me saindo quase como um mestre nisso. Ainda bem que a gente chega sempre no começo da caminhada. Dizendo que mais do que terra de gente inteligente Mangabeira é terra de obediência. Por exemplo, a Lavras da Mangabeira. Desde muito tempo. Desde que ano, não sei. Desde o começo. É verdade, amigo, não guardo datas. Todas as esqueço. Até a do meu nascimento às vezes. Ah, já sei: desde sua criação. De quando o nome era São José. São José de Mãe Velha. São José dos Amargosos. Mas isso já é repetição demais. Não tem nada, não. É só você pular este trecho agora. Ora, você fez foi ler já, não é? Paciência: não faz mal. A repetição ajuda a fixação das coisas. Sobremodo para quem tem já a mente tão cansada. Tão largando as coisas da vida. Todos caminhamos para este estágio, se a morte não surpreende a gente no caminho. "Amargoso" aqui não é que amargue. Povo não amarga. Gente não amarga. O que amarga mesmo - sem deixar de ser doce, sempre doce - é a vida. A vida de cada um. Do rico e do pobre. Do pobre e do miserável. Do sabido e do ignorante. Do de cor e do de sem cor. É, tem gente que nem cor tem. E mais: em qualquer lugar. Em Mangabeira. No Norte do país. No Sul. Na Europa. Nas Américas. No outro lado do mundo. O que é bom é que, mesmo amargando, a vida é doce. É bom viver, sem dúvida. É bom poder andar. É bom poder ver as cores. É bom poder sentir o gosto das coisas. É bom ouvir as melodias. (Você já se lembrou - se é que você acredita - de agradecer a Deus por tudo isso?) Um cara dise que quem usa parênteses é porque não sabe escrever... Ah, você quer mesmo saber por que... dos amargosos. Estou que é porque, lá no alto, dentro da Vila, tem um pé de amargoso. Lá como um sentinela. Lá como um símbolo. Lá a copa verde. Os galhos verdes. Verdes folhas. Só as flores é que são amarelas. Bonito, o Amargoso de São José. Eu acho. E você? Está bem. Todo mundo não está obrigado a achar uma coisa a mesma coisa. Tem gente que diz que a beleza das coisas não está na coisa, senão nos olhos de quem a coisa olha. Em 1960, cometi uma besteira grande - quem não comete besteiras na vida? - a de pensar que podia compor um soneto. Você sabe o que é soneto? Mais ou menos assim: 14 versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, com rima e com chave de ouro - para ser de ouro o soneto tradicional.
Hoje tem o soneto moderno que não segue essa estrutura e não deixa de ser soneto. Bem, basta de teoria. O fato é que tive a ousadia de dizer que o que havia escrito era um soneto sobre o Pé de Amargoso. Algumas pessoas acreditaram e está aí o aleijāo de soneto ou soneto aleijado.
Às portas de Mangabeira, no cabeço de um monte,
Esbelto, vigilante, qual um soldado famoso,
Olhando a Vila, como a mãe o berço de seu filho,
Ergue-se, altaneiro, o pé de Amargoso.
Se se contempla aquela humilde Vila
Vê-se ao longe, prenhe de seiva, cheio de vida,
Perfilar-se, verdejante, o Amargoso,
Vivo símbolo de tantas lutas vencidas.
Sempre vivo, sempre verde, sempre novo,
Representa a viva esperança
Que lateja no coração daquele povo.
Alerta, se há desordem, se tranquilidade,
Baloiçando ao vento, lembra uma bandeira,
Prenunciando - quem sabe? - a liberdade.
Veja o amigo que soneto - bem que merece o nome - desarrumado. Sem métrica. Com rima forçada. Baloiçando ao vento... No meu entusiasmo, pensava que sempre ia balouçar ao vento. Hoje o Pé de Amargoso quase não balança mais ao vento: são tão poucos os galhos. Tão poucas as folhas - que elas vão caindo. A vida da gente, amigo, é como essas folhas - vai caindo e virando terra. As flores amarelas quase não aparecem mais. Não é mais o Pé de Amargoso olhando a Vila, esperança, vigilante. Hoje eu não saberia fazer um soneto nem mesmo assim desconjuntado porque não poderia dizer o que disse. O tempo tirou a beleza e esbelteza do Pé de Amargoso.
Está amarelecendo o verde de sua folhas. O chão não recebe mais o ouro de suas flores. É, amigo, a vida da gente amarelece também. Você aduba o rosto, puxa de um lado, estica de um outro, você pode mascarar tudo, mas o amarelidão vai crescendo por debaixo dele.
Pois é: hoje o Pé de Amargoso - o tempo não lhe perdoou o que foi feito sem ele - é mais um tronco sem galhos. Mas sempre teimando em ser amargoso. Em ser símbolo. De esperança na ânsia vegetal de continuar árvore. Faltou dizer isso: o prefeito de Lavras é o mesmo da Mangabeira, que é de Lavras. Algum imposto - se o houver - vai pra Lavras, porque Mangabeira é só lavra de Lavras. O que sai de Mangabeira - se é que tem o que sair - destina-se a Lavras que é que tem o direito sobre. O que vem para Mangabeira é
Lavras que manda. Se não quiser mandar, manda nada, isto é, não manda. Em governos municipais de há anos, foi assim: São José recebia muito pouco. Quase nada. E era porque era São José - nome de santo. De poder e de prestígio. Mas São José de Mãe Velha não tinha prestígio algum. Hoje é Mangabeira que não o tem. Pois é: prefeitos, lá no antigamente (e hoje?) fechavam os olhos para o lado de São José. Nem para rezar. Puxa! Já dá para se sentir nisso um cheiro, assim diluído, de política. E eu tenho ojeriza até ao cheiro da politicagem brasileira. De Política não. A Política é instinto. É algo peculiar ao ser humano. O que me provoca náuseas mentais é a politicalha nacional. Feita só de interesses particulares. Só de cambalacho. Só de acordos surdos e em silêncio. Só de toma-lá-dá-cá. Só de propina. Só de traições. Tudo está tão longe de politica: tudo isso é politicalha.
Pelo jeito, a fama de Mangabeira nem é mais o esquecimento adiado. Já foi esquecida mesmo. Até por mim mesmo, agora. A gente faz tanto atalho. É tanta lingüiça... de palavras. De qualquer maneira, a gente está falando de e sobre Mangabeira. Mangabeira tem fama sim. Você ainda se lembra do que seja fama? Pois tem, Mangabeira tem fama e não cresce, pelo menos a olhos vistos. Tem gente que diz que a gente pode dizer "a olhos vista". Pra lá esse negócio de concordância. Mas é mesmo: muito devagar sua expansão horizontal. Nem falar em vertical. Tem fama sim, mas não sai da condição de distrito. Sempre dependente. Ora, ninguém vive independentemente. Tudo tem alguma dependência. Gente sempre depende de gente. Nação, de nação. Povo, de povo. Pobre, do rico. Rico, de pobre. É verdade: para se viver, depende-se de outrem. De um jeito ou de outro. Dependente sim, sem subserviência. Dependente sim, sem escravidão. Ou independente, mas sem pisar o outro. Sem explorar o outro. Sem tirar o pouco queo outro tem. Sem ver no outro um devedor sem fim. Porque tem muita gente fazendo isso: sem deixar o outro comer. Sem deixar o outro ter uma casa. Ou tomando a casa de palha que tem.
Fonte: (Extraido do Livro Mangabeira nas artes nas letras no mundo de Dias da Silva).
Começaram a dizer que era assim. Assim como? Sei lá! Bem, ficou sendo assim. Até hoje. Até quando? Também não sei não. Com certeza, até quando o pé do ouvido (é, o pé do ouvido da gente tem pé, falta-lhe é a cabeça) agüentar. Pronto: até quaado o pé do ouvido da gente agüentar. E as oiças (a gente pensa que é errado, não é, não, tem a palavra oiça), e as oiças da gente aguentam tanta coisa. Coisas boas. Coisas ruins. Coisas bonitas. Feias. De todo jeito. Pois é, amigo, foi o filósofo Spencer que disse: "Há sempre uma alma de bondade nas coisas más. Como há sempre uma alma de verdade nas coisas falsas". Sei não, mas as coisas falsas de hoje em dia - e são tantas e por todo canto - não têm nada de verdade. Só falsidade mesmo. Quem quiser pode pensar como Spencer. Viver é discordar. É concordar. É aumentar. É diminuir. Está vendo ai? A vida é feita de contradição. É bom, sim, a gente ser otimista de vez em quando. Ver algo de bom no que é mau (aqui é com "u" mesmo). No que é falso. Tem muita gente que encontra o Belo no Feio. No lixo. Na lama. No esterco. Como os bons poetas fazem-no muito bem. Os bons poetas, eu disse. Os bonzinhos só aumentam o Feio. Só amontoam lixo. Os mediocres só se enlameiam mais. Só se chafurdam mais. É assim mesmo, amigo, quando a coisa pega é fogo. Daqueles que não se apagam. Daqueles que queimam e ardem, e doem. Porque há fogo que queima e arde sem doer. Outro que dói sem queimar. Outro que arde e queima sem doer. O fogo da paixão, por exemplo. O fogo do egoismo. O fogo do amor... É, tem fogo de todo jeito. E de todo jeito a gente sente esses fogos. Espere, volte-se à coisa. Coisa aqui é qualquer coisa: coisa/bicho. Coisa/gente. Gente/coisa. Coisa/coisa. Pode ser uma idéia. Diz-se por exemplo idéia fixa. Pode ser um apelido (acho engraçado quando alguém diz "apelidio"). Tem gente que chama "apodo". O nome é bonito. É diferente. De pouco uso. Tem gente dizendo "apodo" só pra dizer que sabe. Que tem vocabulário rico. A pessoa devia saber que está saindo é besta. Está sendo pedante. Por que dizer "apodo" se pouca gente sabe o que é isso? Ai nem há comunicação: o código é desconhecido para o receptor. Já estou começando a escrever confuso e difícil: "código", "receptor". Melhor do que "apodo" é "apelidio".
Pois é: são coisas assim que pegam. Não largam mais. Vai-se por todo buraco (hoje há buraco por todo canto: as estradas estão esburacadas e o governo não guardou nosso dinheiro nem para tapar buracos; buracos pelas ruas e os impostos que pagamos caem todos no buraco. Ah se fosse: pelo menos entupiriam os buracos. Nada disso: os impostos pagos caem nos bolsos. De quem? Sei lá! De tanta gente), espere eu ia dizendo que se vai por todo buraco e a coisa agarrada. Pegada (ou pregada) ali. Como moda. Diz-se que a moda pega todo mundo. Sei disso não. A moda só pega quem pode estar na moda. Muita coisa da moda nem pega porque muita gente - muita gente mesmo - não pode comprar para andar na moda. Tem ai uma história (é com "h" mesmo) de moda/verão, moda/inverno, moda não sei o quê. São roupas que se vestem só na hora dos desfiles, feitas para o próprio criador e para mais alguns amigos ricos. Assim, a moda pega. A moda não pega. Espere, eu quero me referir é a coisas que pegam mesmo. Como carrapato. Feito abelha de arapuá. Você conhece abelha de arapuá? Pode ser também irapuá. O dicionário diz tudo, diz que tanto faz. É só uma variante. Eta bicho pra pregar nos cabelos da gente. Só morta é que se desgarra. Pois é: há coisa assim. Eu já disse. Espere, eu chego lá: no que quero dizer. Na coisa que pega e prega. Pois não é que uma coisa assim pegajosa assim teimosa assim assim que nem carrapato agarrou Mangabeira! Para não sair mais. Para marcar por todo tempo.
Parece, contudo, que você quer saber logo o que significa Mangabeira, não é? Pois bem, vou logo dizendo o que não é. Não é árvore. Porque tem a árvore mangabeira. Que produz mangaba. Da familia das apocináceas. Nossa! Pra que esse nome científico? É mesmo, nem precisava. O negócio é o que interessa: frequente em cerrados. E no litoral nordestino. Claro, a mangabeira. Assim, Mangabeira não é mangabeira. Com "M" maiúsculo e "m" minúsculo respectivamente. É assim mesmo. Para dizer Vila e para dizer árvore. Só isso. E mais: nunca vi um pé de mangabeira. Você já viu? O que sei é que nasci em Mangabeira. Que nem era Mangabeira, era São José de Mãe Velha. São José dos Amargosos. Bem, podia ser de quem fosse - era São José. O caso, amigo, é que mudaram São José pra Mangabeira. Sem perguntar nada a ninguém: se quem tinha São josé queria Mangabeira. Se quem não tinha aceitava Mangabeira. Não se fez aquele negócio de nome bonito e esquisito - Plebiscito. Significa mais ou menos isso: resolução submetida à apreciação do povo. Pouca gente faz isso hoje. Decreta as coisas lá por cima e a gente tem de obedecer. Consultar o povo? A turma lá de cima tem medo... Espere, ia me esquecendo do plebiscito que não houve. A verdade é que ninguém nem sabia disso. Nem os próprios vereadores. Esses não querem nem saber. Não sei nem se foram eles que acabaram com São José para construir Mangabeira. Ou se deputados que escolheram Mangabeira riscando São José. O povo não foi, não. O povo, com certeza, estaria ainda hoje com São José. Santo poderoso e protetor. Mas árvore também protege. Dá sombra. Dá fruto. Oferece galhos para os ninhos. Para a casa dos pássaros. É, a árvore faz isso. E nada pede de volta. Interessante: o governo tem dinheiro (nosso) e não faz casa. E quando faz, exige pagamento que nunca termina. Só aumenta. Aliás amigo nunca pude entender esta matemática: quanto mais se paga mais se deve. As prestações não amortecem nada. Fazem é dar vida ao saldo devedor. E você termina pagando duas três vezes a mesma coisa. Bem fique isso lá com o... BNH com a CEF sei lá a gente nem sabe com quem.
O fato é que o povo perdeu a proteção de Santo tão poderoso para uma árvore que protege pouco. Que nem sequer existe no lugar. Porque Mangabeira aqui é um lugar. Lugarejo pobre. Meio perdido. Distrito de Lavras da Mangabeira. Ficou repetitivo: Mangabeira de Lavras. Que até hoje é distrito. Não sei por que até agora não chegou a cidade. A município. Lugares menores (de duas ou três ruas), mais lá atrás passaram da situação de distrito para a de cidade. Sede de prefeitura. De muitas coisas. Porque prefeitura tem muitas coisas. Tem até prefeito ruim. Prefeito que desvia dinheiro. Que em quatro anos fica rico. Sei não mas dizem que tem prefeito assim. Se ao menos devolvesse o que tirou... Não precisava nem de processo. Muito menos de cadeia. Mas o que acontece é que nem tem processo nem se devolve nada e nem pensar em cadeia. É salvo as exceções há prefeito safado. Bem poucos graças a Deus. Também se eu disser que são muitos vão querer que diga os nomes ou então vão me prender pelas denúncias vazias. Denúncia vazia - inventam cada nome. Se é vazia não tem nada. E aí já é calúnia. E não tem quem junte a calúnia espalhada. Nossa! Estou é me enrolando. Sei lá vão é me enrolar. Mas que há prefeito malandro há. Daqueles que são como cururu: a gente chuta e ele volta. A lei caça prefeito cassa-o depois e ele teima em voltar. Entretanto o assunto não é prefeito. Muito menos prefeito desonesto. Ainda bem que só existem os prefeitos desonestos porque existem os honestos. E estes mais que aqueles. Felizmente. O de que a gente estava falando era de outra coisa. De qualquer coisa que pega. Pois é: que coisa se grudou em Mangabeira? Distrito esprimido entre Lavras (que não tem lavras, pode ter larvas não sei de quê) Cedro (em que não sei se já houve cedro) e Várzea Alegre que não é várzea nem é alegre. Bem que não é várzea não é mas que tem várzea tem. Que não é alegre não. Até que é alegre. Sobremodo na festa do padroeiro nos carnavais nas vaquejadas nas apanhas de arroz. Diz-se que São Braz lá e São Raimundo.
Mangabeira não tem lavras - larvas pode ter, em todo canto há larvas, pois até gente pode ser larva. Larva humana. Não tem cedro, não tem várzea, não tem mangabeira, mas é Mangabeira; tem muita alegria nas festas de janeiro. Entretanto o que que tem que pegou em Mangabeira? Como abelha de arapuá? Como carrapato? Agora é que vem a coisa que pegou e pregou em Mangabeira: a fama de (lembre-se de que a fama é só o esquecimento adiado), a fama de quê? Cadê essa fama de Mangabeira? Em que consiste a fama de Mangabeira? A de distrito conhecido por todos? Pelo mundo todo? Pelos lá de cima? Pelos lá de baixo? Pra você ver: leu-se nos jornais - municipios encerram festas do padroeiro São Sebastião, 20 de janeiro. E lá estavam as cidades: Apuiarés, Choró, Ipu, Monsenhor Tabosa, Mulungu, Olinda e Pedra Branca. E cadê Mangabeira. O padroeiro de lá também é São Sebastião. Os festejos também se encerram lá no dia 20 de janeiro. É, o jornal esqueceu Mangabeira. Ou nem sabe que existe. Será
porque não passa de distrito? Será que é por isso? Está mais para o fato de que é por desconhecido mesmo. De não proporcionar retorno. De não valer muita coisa. E que história é essa de coisa que pegou em Mangabeira? Que fama é a fama que Mangabeira tem? Era pra ser conhecida por muito mais gente. Pelos jornalistas pelo menos. Não tem fama? Tem, fama tem.
Espere eu sou teimoso. Vou repetir: a fama não passa do esquecimento adiado. É aconselhável que quem tem fama não se empavone por isso. Que não se incha em demasia. Que não se ponha por cima de todo mundo levado pela vaidade. Que pense que fama passa rápido. Tão depressa passa a fama. Tem gente que porque tem fama não pisa no chão: o chão está sujo e cheio de gente sem fama. Gente que esmaga o outro para conservar sua fama. Que só olha por cima. Não há desculpa amigo. Você já sabe o que é a glória. É só isso mesmo...
Sei não. Ora, não sei. Sei, sim. Você sabe. Muita gente pode não conhecer Mangabeira. Mas todo mundo sabe que Mangabeira pegou a fama de terra de gente inteligente. Terra de gente sabida. Terra de gente de cultura. Terra de gente de conhecimento. Engraçado: tem gente que chega a dizer que Mangabeira é terra de gênio. Parece que há muitos sem saber o que é gênio. Ora amigo, todo e qualquer povo tem cultura, se a gente pensa como T.S. Eliot: "o conjunto das formas em que um povo vive do nascimento até ao túmulo, do amanhecer ao anoitecer e mesmo enquanto dorme". Pois é: cultura é esta maneira peculiar pela qual os homens cultivam suas relações com a natureza, entre si e com Deus, como estilo de vida, o que é consequência de seu caráter social. Assim esta fama é de todo povo. Do mundo todo. Terra de gênio? A gente está esquecendo a noção de gênio. Foram (são) poucos os que a humanidade produziu. A não ser que a ciência chegue à clonagem do gênio. E aí aonde vai a humanidade? Contam-se os que têm fama de gênio. É bem pouca gente. O certo é que é certo: muita gente sai por aí em fora com esta história - Mangabeira só tem gente inteligente. E as outras coisas: de cultura. De conhecimento. De Sabedoria. De gênio. É esta a fama que feito abelha de arapuá se agarrou ao distrito. Com unhas e dentes - é um dizer que diz isso. Essas coisas já ultrapassaram fronteiras. Essa fama não coube dentro de Mangabeira. E já vem de longe. Sem largar. E parece que ainda vai longe. Será que é assim mesmo? Mangabeira é terra de gente inteligente? De povo de Cultura e de conhecimento? Mais do que o povo dos outros distritos? Mais do que o povo de outras cidades? Mais do que o povo do mundo inteiro? Porque eu já disse antes: Mangabeira é um distrito pequeno. Maior, contudo, do que alguns outros que já passaram a cidade. A pobreza é a sua riqueza. Porque é um distrito rico de pobreza. Quase que de miséria também. Há uma verdade cruel por ai: muitas partes do mundo estão saindo da pobreza para cair na miséria. Muita gente está fazendo muita gente caminhar da pobreza para a miséria. Poucos muito ricos estão fabricando muitos miseráveis. Pela exploração. Pela ganância. Pelo anseio incontrolável do domínio. Pela indiferença. Pelo abandono. Pelo egoísmo. Por tantas coisas tantas. Abram-se os olhos que a miséria não está agüentando mais o faz-que-não-vê dos que têm. Dos que podem. Dos que fingem que não vêem. Essas pessoas teimam em ignorar que estão cavando a própria ruína. Que estão preparando para si dias ruins. É, amigo, agir assim, fazer assim é bom para poucos e por pouco tempo. Explorar menos, pisar o outro mais de leve,
espalhar mais tanta riqueza concentrada, ver gente no outro seria bom não apenas para poucos, mas para todo mundo. Vou-me sair pessimista agora (já não o sou por essência?):o estágio de não mais explorar, de dividir renda, de tratar outrem como gente que tem direitos, que sente, que se indigna, que tem familia, que adoece, que ri, que chora, que... é tanta coisa "quê" - é inatingível. Os poderosos nunca vão chegar lá. Sempre irão querer sempre mais. Vão querer tirar sempre mais. Pisar sempre mais forte. O poderoso egoísta não pensa que é o operário que o faz rico. Que lhe faz a mesa farta. Que lhe constrói a mansão. Que lhe permite férias em ilhas belas. Em nada disso ele pensa.
Puxa! Como a gente pega veredas e deixa a estrada principal. Estou me saindo quase como um mestre nisso. Ainda bem que a gente chega sempre no começo da caminhada. Dizendo que mais do que terra de gente inteligente Mangabeira é terra de obediência. Por exemplo, a Lavras da Mangabeira. Desde muito tempo. Desde que ano, não sei. Desde o começo. É verdade, amigo, não guardo datas. Todas as esqueço. Até a do meu nascimento às vezes. Ah, já sei: desde sua criação. De quando o nome era São José. São José de Mãe Velha. São José dos Amargosos. Mas isso já é repetição demais. Não tem nada, não. É só você pular este trecho agora. Ora, você fez foi ler já, não é? Paciência: não faz mal. A repetição ajuda a fixação das coisas. Sobremodo para quem tem já a mente tão cansada. Tão largando as coisas da vida. Todos caminhamos para este estágio, se a morte não surpreende a gente no caminho. "Amargoso" aqui não é que amargue. Povo não amarga. Gente não amarga. O que amarga mesmo - sem deixar de ser doce, sempre doce - é a vida. A vida de cada um. Do rico e do pobre. Do pobre e do miserável. Do sabido e do ignorante. Do de cor e do de sem cor. É, tem gente que nem cor tem. E mais: em qualquer lugar. Em Mangabeira. No Norte do país. No Sul. Na Europa. Nas Américas. No outro lado do mundo. O que é bom é que, mesmo amargando, a vida é doce. É bom viver, sem dúvida. É bom poder andar. É bom poder ver as cores. É bom poder sentir o gosto das coisas. É bom ouvir as melodias. (Você já se lembrou - se é que você acredita - de agradecer a Deus por tudo isso?) Um cara dise que quem usa parênteses é porque não sabe escrever... Ah, você quer mesmo saber por que... dos amargosos. Estou que é porque, lá no alto, dentro da Vila, tem um pé de amargoso. Lá como um sentinela. Lá como um símbolo. Lá a copa verde. Os galhos verdes. Verdes folhas. Só as flores é que são amarelas. Bonito, o Amargoso de São José. Eu acho. E você? Está bem. Todo mundo não está obrigado a achar uma coisa a mesma coisa. Tem gente que diz que a beleza das coisas não está na coisa, senão nos olhos de quem a coisa olha. Em 1960, cometi uma besteira grande - quem não comete besteiras na vida? - a de pensar que podia compor um soneto. Você sabe o que é soneto? Mais ou menos assim: 14 versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, com rima e com chave de ouro - para ser de ouro o soneto tradicional.
Hoje tem o soneto moderno que não segue essa estrutura e não deixa de ser soneto. Bem, basta de teoria. O fato é que tive a ousadia de dizer que o que havia escrito era um soneto sobre o Pé de Amargoso. Algumas pessoas acreditaram e está aí o aleijāo de soneto ou soneto aleijado.
Às portas de Mangabeira, no cabeço de um monte,
Esbelto, vigilante, qual um soldado famoso,
Olhando a Vila, como a mãe o berço de seu filho,
Ergue-se, altaneiro, o pé de Amargoso.
Se se contempla aquela humilde Vila
Vê-se ao longe, prenhe de seiva, cheio de vida,
Perfilar-se, verdejante, o Amargoso,
Vivo símbolo de tantas lutas vencidas.
Sempre vivo, sempre verde, sempre novo,
Representa a viva esperança
Que lateja no coração daquele povo.
Alerta, se há desordem, se tranquilidade,
Baloiçando ao vento, lembra uma bandeira,
Prenunciando - quem sabe? - a liberdade.
Veja o amigo que soneto - bem que merece o nome - desarrumado. Sem métrica. Com rima forçada. Baloiçando ao vento... No meu entusiasmo, pensava que sempre ia balouçar ao vento. Hoje o Pé de Amargoso quase não balança mais ao vento: são tão poucos os galhos. Tão poucas as folhas - que elas vão caindo. A vida da gente, amigo, é como essas folhas - vai caindo e virando terra. As flores amarelas quase não aparecem mais. Não é mais o Pé de Amargoso olhando a Vila, esperança, vigilante. Hoje eu não saberia fazer um soneto nem mesmo assim desconjuntado porque não poderia dizer o que disse. O tempo tirou a beleza e esbelteza do Pé de Amargoso.
Está amarelecendo o verde de sua folhas. O chão não recebe mais o ouro de suas flores. É, amigo, a vida da gente amarelece também. Você aduba o rosto, puxa de um lado, estica de um outro, você pode mascarar tudo, mas o amarelidão vai crescendo por debaixo dele.
Pois é: hoje o Pé de Amargoso - o tempo não lhe perdoou o que foi feito sem ele - é mais um tronco sem galhos. Mas sempre teimando em ser amargoso. Em ser símbolo. De esperança na ânsia vegetal de continuar árvore. Faltou dizer isso: o prefeito de Lavras é o mesmo da Mangabeira, que é de Lavras. Algum imposto - se o houver - vai pra Lavras, porque Mangabeira é só lavra de Lavras. O que sai de Mangabeira - se é que tem o que sair - destina-se a Lavras que é que tem o direito sobre. O que vem para Mangabeira é
Lavras que manda. Se não quiser mandar, manda nada, isto é, não manda. Em governos municipais de há anos, foi assim: São José recebia muito pouco. Quase nada. E era porque era São José - nome de santo. De poder e de prestígio. Mas São José de Mãe Velha não tinha prestígio algum. Hoje é Mangabeira que não o tem. Pois é: prefeitos, lá no antigamente (e hoje?) fechavam os olhos para o lado de São José. Nem para rezar. Puxa! Já dá para se sentir nisso um cheiro, assim diluído, de política. E eu tenho ojeriza até ao cheiro da politicagem brasileira. De Política não. A Política é instinto. É algo peculiar ao ser humano. O que me provoca náuseas mentais é a politicalha nacional. Feita só de interesses particulares. Só de cambalacho. Só de acordos surdos e em silêncio. Só de toma-lá-dá-cá. Só de propina. Só de traições. Tudo está tão longe de politica: tudo isso é politicalha.
Pelo jeito, a fama de Mangabeira nem é mais o esquecimento adiado. Já foi esquecida mesmo. Até por mim mesmo, agora. A gente faz tanto atalho. É tanta lingüiça... de palavras. De qualquer maneira, a gente está falando de e sobre Mangabeira. Mangabeira tem fama sim. Você ainda se lembra do que seja fama? Pois tem, Mangabeira tem fama e não cresce, pelo menos a olhos vistos. Tem gente que diz que a gente pode dizer "a olhos vista". Pra lá esse negócio de concordância. Mas é mesmo: muito devagar sua expansão horizontal. Nem falar em vertical. Tem fama sim, mas não sai da condição de distrito. Sempre dependente. Ora, ninguém vive independentemente. Tudo tem alguma dependência. Gente sempre depende de gente. Nação, de nação. Povo, de povo. Pobre, do rico. Rico, de pobre. É verdade: para se viver, depende-se de outrem. De um jeito ou de outro. Dependente sim, sem subserviência. Dependente sim, sem escravidão. Ou independente, mas sem pisar o outro. Sem explorar o outro. Sem tirar o pouco queo outro tem. Sem ver no outro um devedor sem fim. Porque tem muita gente fazendo isso: sem deixar o outro comer. Sem deixar o outro ter uma casa. Ou tomando a casa de palha que tem.
Mangabeira, amigo, é um caso "sui generis". Que história é essa de "sui generis"? Se escrevi a expressão erroneamente, já repeti o erro. Não vou nem explicar o significado do conjunto latino. Para não complicar mais ainda. Entretanto Mangabeira tem uma fama engraçada. Agora nem sei se a tem. Nem sei se é fama. O povo de Mangabeira e o de fora é que falam assim: Mangabeira é terra de gente inteligente. De gente de cultura. Estou que justo por isso Mangabeira não cresce mais depressa. Justo por isso que não chega a município. Justo por isso vai subordinar-se sempre a Lavras. Justo porque a fama que o povo diz que Mangabeira tem é a de ser gente inteligente e de cultura. Mas não o é para maquinar. Não o é para enganar. Para crescer ilicitamente. Para desviar. Para agir pelo debaixo dos panos. Parece que é por isso: gente inteligente, mas não sabe fazer essas coisas. É verdade: inteligência e cultura não é condição "sinequa" - lá vem outra expressão latina que pouca gente entende - para dominar. Para o enriquecimento. Para a independência. É, conhecimento, inteligência e cultura não é passaporte para a fama. Para o poder. Para o domínio. Entretanto esta é a fama que Mangabeira tem. Muita gente diz que Mangabeira tem. Eu é que não vou muito nessa, não. Nunca fui. De jeito algum. De jeito maneira. É certo dizer-se assim? Sei não. Já ouvi falar-se assim. E não é o povo que faz a língua? Pois é: Mangabeira não tem de mais do que outros lugares pequenos. Faz é não ter o que outros lugares pequenos têm. Nada de extraordinário. Nada que prenda a atenção de alguém. É um povo inteligente como qualquer povo inteligente de qualquer canto. Tudo dentro dos conformes. Nenhuma anormalidade. Que história é esta de gênio? Nada de genialidade. A gente de Mangabeira é inteligente como toda gente de todo lugar. Gente que aprende como todo mundo. Gente que tem dificuldade de aprender como todo mundo.
Gente que não sabe muita coisa - todo mundo sabe alguma coisa - como muita gente.
Você sabia que todo mundo tem inteligência? Pois tem. Sendo normal fisica e mentalmente, é inteligente. Sendo fisica e mentalmente deficiente, é inteligente. Todo mundo nasce inteligente em potencial. O que é preciso é só trabalhar essa inteligência. Do contrário, estagna, emperra e pára. E tem gente que chama o outro de burro. Para dizer que não tem inteligência. Ninguém é burro. Burro é que é burro. Porque burro é o nome dele, o que quer dizer que nem o burro é burro. É isso, amigo. O burro é inteligente também. E tem uma coisa: é mais do que o ser humano. Do que a gente. Porque ele é perfeito, na essência, na sua desinteligência. Não há mais o que melhorar no burro. É um ser acabado. O ser humano, não. O vir-a-ser é sua condição. Quando se imagina acabado, está-se apenas começando. Quem se disser realizado, está negando o caminho rumo ao mais, ao melhor, ao aperfeiçoamento. Não, professor amigo, não chame seu aluno de burro. Nunca. Todo mundo é inteligente. Nao há negar que há os que aprendem mais ligeiro. As impressões, guarda-as melhor. Decoram melhor as coisas. Assimilam, mais rápido, tudo na vida. Por quê? Por serem mais inteligentes que outros? Não. Não é por isso. É que exercitam a capacidade de aprender. É que cultivam a inteligência. Bem, deles mais devagar aprendem. Assimilam mais devagar. Guardam mais devagar. Entretanto todos aprendem alguma coisa. Todos mudam alguma coisa em alguma coisa. Pode crer, amigo. Repetindo: a inteligência do povo de Mangabeira é igual à de tantos outros distritos. Sem tirar nem pôr. O que a gente de Mangabeira tem de chamar a atenção não é a inteligência, a ponto de tanta fama. Assim acima da média. Assim dita extraordinária. Assim de gênio. Nada disso. O que o povo de Mangabeira é é que é esforçado. O que o povo de Mangabeira tem de muito é boa vontade. Esforço e boa vontade aliados á inteligência comum. Normal. De todo mundo. Só isso. O negócio é que o negócio pegou. Agarrou como carrapato, não saiu mais e a fama de gente inteligente cresceu e correu mundo. E quem cria fama pode dormir na cama. Dormir tão só? Será que vai sustentar a fama?
É verdade: todo mundo tem inteligência. Nem todo mundo, contudo, tem boa vontade e faz esforço. O povo de Mangabeira tem inteligência como todo mundo do mundo todo. O que pode ter a mais do que outras gentes é esforço. É coragem. Coragem de enfrentar. Ter disposição para o trabalho. Nisso muita gente de Mangabeira sai vitoriosa. Desenvolve-se. Cresce na vida. Nada, entretanto, fora da normalidade. Capacidade de entender normal. Para o trabalho, normal. Capacidade para compreensão do mundo, normal. De ler o mundo, normal. Tudo dentro do comum e do normal. O que Mangabeira é, sobremodo, é ser um distrito pobre. Cheio de problemas. Marcado pela carência. Sem recursos. O engraçado é que existem os recursos. Abundantemente. Para todo o distrito. Para todos os distritos do País. Para todas as cidades. Para o campo todo. Para o Brasil inteiro. Acontece que não dão pra todos. Não chegam pra todos. Por que quase todos os recursos vão ficando na mão de poucos. Pelos desvios. Pelo roubo puro e simples. Pelos superfaturamentos. Pelas obras que não saem do papel. Pelas mordomias injustas. E lá vem a justificativa: o governo não tem dinheiro. O governo não arrecada o suficiente. Só pode: quem deve imposto muito não paga. Inventa coisa. Arranja descontos. Chega ao ponto de o governo ter de devolver-lhe algum dinheiro. E a choradeira continua: não tem verba. Os recursos orçamentários são diminutos. O funcionalismo come dinheiro demais. Como come? Sete, oito anos sem aumento algum, come? Tem é gente comendo esse dinheiro que não o funcionário. Basta que se diga que após sete anos, o governo, num gesto de bravura, concedeu 3,5%. Com aumento assim só pode é não ter mais verba. Mais dinheiro.
Sabe-se que não há recursos por causa do seu mau emprego. Não há verba suficiente em face dos desvios e descaminhos. Por motivo da locupletação de poucos. Para boa vida de alguns, e muitos se afogam na miséria. Desviam da saúde e não devolvem. Tiram do INSS e não devolvem.
Superfaturam contas e não devolvem. Enchem os bolsos deixando tanta mão vazia. Parece que é muita gente pensando que como o dinheiro é público é de ninguém. De ninguém não: é deles. Assim não, gente. Vocês estão sem deixar o pobre viver. Vocês estão arrebatando o pedaço de pão que o miserável poderia mastigar. Vocês estão obrigando outro a dormir pelas calçadas, por falta de moradia. Estão no bem-bom. Com mesa cheia de iguarias diversas. Com o carro do ano esperando na garagem. Com a cama macia e o lençol de veludo. Nos banquetes esbanjadores e nas praias bonitas. Em viagens luxuosas de reconhecimento do mundo, enquanto outros não têm nem migalhas. Têm os melhores hospitais, os médicos mais treinados, em detrimento de muitos que morrem nas filas procurando saúde. Realmente não dá para pensar em nada disto: de que explora o outro em sua fábrica. De que nada divide com o trabalhador em sua empresa grande e lucrativa. De que nada dispensa à doméstica em sua cozinha. De que está roubando de quem não tem quase nada. De que não quer nem saber se o operário tem familia. Se pode adoecer. Só pensam no trabalhador enquanto está produzindo. Você é assim, amigo? Porque há muita gente assim. Nossa! Como descambei por atalho tão longo. Quase que Mangabeira fica esquecida. Em segundo plano. Para ter lugar tanta besteira sem nexo. Sem lógica. Tanta coisa doida. Acontece que Mangabeira é, de fato, distrito pobre. Só carência. Pouquíssimos conseguem desenvolver-se, sobremodo intelectualmente, ficando lá. Assim, adultos, jovens principalmente, a coragem na cara, cheios de vontade de vencer de lutar, a esperança na alma, largam as ruas empoeiradas do lugarejo e vão longe, rumo ao desconhecido. Porque Mangabeira é só o que é: pequena, pobre, carente. (Mas eta que lugarzinho bom danado!) Francamente, gosto tanto de Mangabeira. Nasci lá: já lá vão tantos anos. Pois é: saem por aí em fora. Em busca de trabalho. Em busca de estudo. Em busca de conhecimento. Geralmente só com a coragem e a cara. É verdade: Mangabeira não tem muita coisa a oferecer.
Desde os "bandeirantes" primeiros. Desde os primeiros abridores de caminhos. Como João Gonçalves de Souza. Como Nonato Dias. Como José Olegário. Como outros. Enfrentando problemas tantos. Carência, pobreza, empecilhos. Eram desbravadores de estradas. Todos deixaram exemplo para os que viessem depois. Assim, o povo de Mangabeira - os jovens sobremaneira - crescem e vencem, não tanto pela fama de ser gente inteligente, senão pela coragem de enfrentar o mundo. É gente que sai. Que vai. Que demanda. Que quer trabalhar. Que quer conhecer. A fama de ser povo inteligente não é tudo. Depois é só fama. Não é a palavra final. Ninguém vive só de fama. Só pela fama. O povo de Mangabeira não pode se orgulhar da fama que dizem o povo ter. Entretanto, para trazer alguns exemplos de gente de Mangabeira que cresceu, tomou vulto, agigantou-se, muito menos pela fama de ser inteligente do que pela força da boa vontade e pela coragem, adianto alguns nomes. Assim: João Gonçalves de Souza que foi sacristão, varredor de igreja para poder estudar e conhecer. Formou-se amargando a pobreza e cresceu enfrentando barreiras - Superintendente da SUDENE, ministério do interior subsecretário da OEA. Chegou tão alto com tanta simplicidade humildade e mansidão. Outro: Hilário Duarte. Nascido em Várzea Alegre, veio para Mangabeira bem pequeno. Infância e adolescência em Mangabeira. Vendendo água para pode estudar e conhecer. Lavou pratos em escolas. Formou-se - advogado, Juiz, desembargador no Rio de Janeiro. Outros limparam chão para poder estudar. Colheram milho e apanharam algodão para poder conhecer o mundo. Sim, era a fama de gente inteligente em parceria com boa vontade e esforço. Com o predomínio sempre destas qualidades: boa vontade, esforço, coragem, esperança e humildade. Pois é: assim é que vejo a gente de Mangabeira: gente que tem a inteligência que todo mundo tem. Gente. contudo, que tem o que muita gente não tem: esforço, boa vontade e coragem. A fama que sei que o povo de Mangabeira tem não é apenas a de ser inteligente, porque isso não é fama, é uma prerrogativa do ser humano, comum, própria de. A que o povo de Mangabeira tem é a de ser gente de luta. Que enfrenta. Que vai. Que vem. Que fracassa. Que vence. Que ganha. Que perde. Gente igual a muita gente de lugares tantos. De qualquer maneira, malgrado tanta pobreza e tanta carência, bota admiração na gente a projeção de Mangabeira nas artes. Nas letras. No mundo. Pela pintura. Pela poesia, conto, ensaio. Pela música. No mundo - pessoas que sobressaem e atravessam fronteiras e vão fazer bonitas figuras lá fora. No mundo velho que é sempre novo. Porque "o novo é só o velho que, depois de esquecido, reencontranmos". É só o velho renovado. Sem dúvida: há bastante gente de Mangabeira escrevendo, compondo, pintando. Andando o mundo para espalhar coisas bonitas. Este aspecto sim chama a atenção da gente. Mais do que o da fama de ser gente inteligente. Inteligência tem como toda gente. Fama tem porque as pessoas começaram a dizer que tinha. E a coisa pegou. E mais: certamente não é tão só na área do conhecimento. Da cultura. Das letras. Das artes. Que Mangabeira se destaca. Veja o leitor que não falei em fama. Falei em destaque que é o que Mangabeira tem. Também no comércio. Na educação. No ensino. Basta que se diga que só em Fortaleza o número de educadores e diretores de escolas chegou a mais de 20. Ora, tudo isso bota admiração na gente. Por isso é que a gente começa a acreditar na fama de ser gente inteligente a gente de Mangabeira.
Pois bem: foi este lado (sem fama) de Mangabeira que me animou a proceder ao levantamento de conterrâneos em destaque nas letras nas artes e no mundo.
Este livreto não chega a ser antologia. Não, não é uma antologia. Só um amontoado de dados sobre alguns personagens que têm uma pequena história e caminho. É uma maneira de arrancar do anonimato gente que vem dando nome ao lugar. Que vem engrandecendo o lugar. Que vem alimentando essa fama que muita gente diz que Mangabeira tem. Talvez pouca gente saiba do fenômeno. Até muitos conterrâneos ignorem talvez este lado curioso. Assim este livreto são biobibliografias curtas. Bem rápidas. Cortes soltos de vida. Sem ordem. Sem cronologia. Adoidadamente. É, a finalidade desta coletânea é registrar (mais vale o pouco no papel do que o muito no esquecimento) o nome e um pouco da vida de alguns escritores e artistas de Mangabeira: poetas, pintores, músicos, compositores. Filhos de Mangabeira que escreveram e publicaram livros. Que pintaram e fizeram esculturas. Que compõem e dominam instrumentos. Entretanto o que o ser humano produz ou cria é susceptível de mudança. De aperfeiçoamento. De lacunas. De erros. E nada é acabado. Quanto mais um livreto desta natureza. A gente esquece nome, a gente erra data. Ora, amigo, é livro de gente. Dados sobre gente. Assim esta coletânea de autores é falha. Com certeza, com o caminhar do tempo - parece que há alguma coisas de errado nisso: o tempo não caminha, nós é que caminhamos no tempo. O tempo nem se
importa com a gente. O tempo é que não perdoa o que a gente faz sem ele. Pois é: com o tempo muita coisa poderá ser corrigida. Cortada. E você, amigo, poderá ajudar nisso. Para diminuir a margem de omisões, devo dizer que, nas páginas de "Mangabeira nas Artes, Nas letras, No mundo", têm lugar aqueles autores que já lançaram, à fome pública, suas mensagens: idéias, emoções, som e cores. Se você tiver coragem de ler biobibliografia. leve Mangabeira para sua casa. Se não, faça-o assim mesmo: a traça e o cupim terão, com certeza, a mesa farta.
*Em 2023, no dia 27 de Julho como parte da programação dos 119 anos do Distrito de Mangabeira, aconteceu o 2 desfile da miss Mangabeira.
2. "A Pedra do Avião" - (localizada na Serra da Mescla).
Gente que não sabe muita coisa - todo mundo sabe alguma coisa - como muita gente.
Você sabia que todo mundo tem inteligência? Pois tem. Sendo normal fisica e mentalmente, é inteligente. Sendo fisica e mentalmente deficiente, é inteligente. Todo mundo nasce inteligente em potencial. O que é preciso é só trabalhar essa inteligência. Do contrário, estagna, emperra e pára. E tem gente que chama o outro de burro. Para dizer que não tem inteligência. Ninguém é burro. Burro é que é burro. Porque burro é o nome dele, o que quer dizer que nem o burro é burro. É isso, amigo. O burro é inteligente também. E tem uma coisa: é mais do que o ser humano. Do que a gente. Porque ele é perfeito, na essência, na sua desinteligência. Não há mais o que melhorar no burro. É um ser acabado. O ser humano, não. O vir-a-ser é sua condição. Quando se imagina acabado, está-se apenas começando. Quem se disser realizado, está negando o caminho rumo ao mais, ao melhor, ao aperfeiçoamento. Não, professor amigo, não chame seu aluno de burro. Nunca. Todo mundo é inteligente. Nao há negar que há os que aprendem mais ligeiro. As impressões, guarda-as melhor. Decoram melhor as coisas. Assimilam, mais rápido, tudo na vida. Por quê? Por serem mais inteligentes que outros? Não. Não é por isso. É que exercitam a capacidade de aprender. É que cultivam a inteligência. Bem, deles mais devagar aprendem. Assimilam mais devagar. Guardam mais devagar. Entretanto todos aprendem alguma coisa. Todos mudam alguma coisa em alguma coisa. Pode crer, amigo. Repetindo: a inteligência do povo de Mangabeira é igual à de tantos outros distritos. Sem tirar nem pôr. O que a gente de Mangabeira tem de chamar a atenção não é a inteligência, a ponto de tanta fama. Assim acima da média. Assim dita extraordinária. Assim de gênio. Nada disso. O que o povo de Mangabeira é é que é esforçado. O que o povo de Mangabeira tem de muito é boa vontade. Esforço e boa vontade aliados á inteligência comum. Normal. De todo mundo. Só isso. O negócio é que o negócio pegou. Agarrou como carrapato, não saiu mais e a fama de gente inteligente cresceu e correu mundo. E quem cria fama pode dormir na cama. Dormir tão só? Será que vai sustentar a fama?
É verdade: todo mundo tem inteligência. Nem todo mundo, contudo, tem boa vontade e faz esforço. O povo de Mangabeira tem inteligência como todo mundo do mundo todo. O que pode ter a mais do que outras gentes é esforço. É coragem. Coragem de enfrentar. Ter disposição para o trabalho. Nisso muita gente de Mangabeira sai vitoriosa. Desenvolve-se. Cresce na vida. Nada, entretanto, fora da normalidade. Capacidade de entender normal. Para o trabalho, normal. Capacidade para compreensão do mundo, normal. De ler o mundo, normal. Tudo dentro do comum e do normal. O que Mangabeira é, sobremodo, é ser um distrito pobre. Cheio de problemas. Marcado pela carência. Sem recursos. O engraçado é que existem os recursos. Abundantemente. Para todo o distrito. Para todos os distritos do País. Para todas as cidades. Para o campo todo. Para o Brasil inteiro. Acontece que não dão pra todos. Não chegam pra todos. Por que quase todos os recursos vão ficando na mão de poucos. Pelos desvios. Pelo roubo puro e simples. Pelos superfaturamentos. Pelas obras que não saem do papel. Pelas mordomias injustas. E lá vem a justificativa: o governo não tem dinheiro. O governo não arrecada o suficiente. Só pode: quem deve imposto muito não paga. Inventa coisa. Arranja descontos. Chega ao ponto de o governo ter de devolver-lhe algum dinheiro. E a choradeira continua: não tem verba. Os recursos orçamentários são diminutos. O funcionalismo come dinheiro demais. Como come? Sete, oito anos sem aumento algum, come? Tem é gente comendo esse dinheiro que não o funcionário. Basta que se diga que após sete anos, o governo, num gesto de bravura, concedeu 3,5%. Com aumento assim só pode é não ter mais verba. Mais dinheiro.
Sabe-se que não há recursos por causa do seu mau emprego. Não há verba suficiente em face dos desvios e descaminhos. Por motivo da locupletação de poucos. Para boa vida de alguns, e muitos se afogam na miséria. Desviam da saúde e não devolvem. Tiram do INSS e não devolvem.
Superfaturam contas e não devolvem. Enchem os bolsos deixando tanta mão vazia. Parece que é muita gente pensando que como o dinheiro é público é de ninguém. De ninguém não: é deles. Assim não, gente. Vocês estão sem deixar o pobre viver. Vocês estão arrebatando o pedaço de pão que o miserável poderia mastigar. Vocês estão obrigando outro a dormir pelas calçadas, por falta de moradia. Estão no bem-bom. Com mesa cheia de iguarias diversas. Com o carro do ano esperando na garagem. Com a cama macia e o lençol de veludo. Nos banquetes esbanjadores e nas praias bonitas. Em viagens luxuosas de reconhecimento do mundo, enquanto outros não têm nem migalhas. Têm os melhores hospitais, os médicos mais treinados, em detrimento de muitos que morrem nas filas procurando saúde. Realmente não dá para pensar em nada disto: de que explora o outro em sua fábrica. De que nada divide com o trabalhador em sua empresa grande e lucrativa. De que nada dispensa à doméstica em sua cozinha. De que está roubando de quem não tem quase nada. De que não quer nem saber se o operário tem familia. Se pode adoecer. Só pensam no trabalhador enquanto está produzindo. Você é assim, amigo? Porque há muita gente assim. Nossa! Como descambei por atalho tão longo. Quase que Mangabeira fica esquecida. Em segundo plano. Para ter lugar tanta besteira sem nexo. Sem lógica. Tanta coisa doida. Acontece que Mangabeira é, de fato, distrito pobre. Só carência. Pouquíssimos conseguem desenvolver-se, sobremodo intelectualmente, ficando lá. Assim, adultos, jovens principalmente, a coragem na cara, cheios de vontade de vencer de lutar, a esperança na alma, largam as ruas empoeiradas do lugarejo e vão longe, rumo ao desconhecido. Porque Mangabeira é só o que é: pequena, pobre, carente. (Mas eta que lugarzinho bom danado!) Francamente, gosto tanto de Mangabeira. Nasci lá: já lá vão tantos anos. Pois é: saem por aí em fora. Em busca de trabalho. Em busca de estudo. Em busca de conhecimento. Geralmente só com a coragem e a cara. É verdade: Mangabeira não tem muita coisa a oferecer.
Desde os "bandeirantes" primeiros. Desde os primeiros abridores de caminhos. Como João Gonçalves de Souza. Como Nonato Dias. Como José Olegário. Como outros. Enfrentando problemas tantos. Carência, pobreza, empecilhos. Eram desbravadores de estradas. Todos deixaram exemplo para os que viessem depois. Assim, o povo de Mangabeira - os jovens sobremaneira - crescem e vencem, não tanto pela fama de ser gente inteligente, senão pela coragem de enfrentar o mundo. É gente que sai. Que vai. Que demanda. Que quer trabalhar. Que quer conhecer. A fama de ser povo inteligente não é tudo. Depois é só fama. Não é a palavra final. Ninguém vive só de fama. Só pela fama. O povo de Mangabeira não pode se orgulhar da fama que dizem o povo ter. Entretanto, para trazer alguns exemplos de gente de Mangabeira que cresceu, tomou vulto, agigantou-se, muito menos pela fama de ser inteligente do que pela força da boa vontade e pela coragem, adianto alguns nomes. Assim: João Gonçalves de Souza que foi sacristão, varredor de igreja para poder estudar e conhecer. Formou-se amargando a pobreza e cresceu enfrentando barreiras - Superintendente da SUDENE, ministério do interior subsecretário da OEA. Chegou tão alto com tanta simplicidade humildade e mansidão. Outro: Hilário Duarte. Nascido em Várzea Alegre, veio para Mangabeira bem pequeno. Infância e adolescência em Mangabeira. Vendendo água para pode estudar e conhecer. Lavou pratos em escolas. Formou-se - advogado, Juiz, desembargador no Rio de Janeiro. Outros limparam chão para poder estudar. Colheram milho e apanharam algodão para poder conhecer o mundo. Sim, era a fama de gente inteligente em parceria com boa vontade e esforço. Com o predomínio sempre destas qualidades: boa vontade, esforço, coragem, esperança e humildade. Pois é: assim é que vejo a gente de Mangabeira: gente que tem a inteligência que todo mundo tem. Gente. contudo, que tem o que muita gente não tem: esforço, boa vontade e coragem. A fama que sei que o povo de Mangabeira tem não é apenas a de ser inteligente, porque isso não é fama, é uma prerrogativa do ser humano, comum, própria de. A que o povo de Mangabeira tem é a de ser gente de luta. Que enfrenta. Que vai. Que vem. Que fracassa. Que vence. Que ganha. Que perde. Gente igual a muita gente de lugares tantos. De qualquer maneira, malgrado tanta pobreza e tanta carência, bota admiração na gente a projeção de Mangabeira nas artes. Nas letras. No mundo. Pela pintura. Pela poesia, conto, ensaio. Pela música. No mundo - pessoas que sobressaem e atravessam fronteiras e vão fazer bonitas figuras lá fora. No mundo velho que é sempre novo. Porque "o novo é só o velho que, depois de esquecido, reencontranmos". É só o velho renovado. Sem dúvida: há bastante gente de Mangabeira escrevendo, compondo, pintando. Andando o mundo para espalhar coisas bonitas. Este aspecto sim chama a atenção da gente. Mais do que o da fama de ser gente inteligente. Inteligência tem como toda gente. Fama tem porque as pessoas começaram a dizer que tinha. E a coisa pegou. E mais: certamente não é tão só na área do conhecimento. Da cultura. Das letras. Das artes. Que Mangabeira se destaca. Veja o leitor que não falei em fama. Falei em destaque que é o que Mangabeira tem. Também no comércio. Na educação. No ensino. Basta que se diga que só em Fortaleza o número de educadores e diretores de escolas chegou a mais de 20. Ora, tudo isso bota admiração na gente. Por isso é que a gente começa a acreditar na fama de ser gente inteligente a gente de Mangabeira.
Pois bem: foi este lado (sem fama) de Mangabeira que me animou a proceder ao levantamento de conterrâneos em destaque nas letras nas artes e no mundo.
Este livreto não chega a ser antologia. Não, não é uma antologia. Só um amontoado de dados sobre alguns personagens que têm uma pequena história e caminho. É uma maneira de arrancar do anonimato gente que vem dando nome ao lugar. Que vem engrandecendo o lugar. Que vem alimentando essa fama que muita gente diz que Mangabeira tem. Talvez pouca gente saiba do fenômeno. Até muitos conterrâneos ignorem talvez este lado curioso. Assim este livreto são biobibliografias curtas. Bem rápidas. Cortes soltos de vida. Sem ordem. Sem cronologia. Adoidadamente. É, a finalidade desta coletânea é registrar (mais vale o pouco no papel do que o muito no esquecimento) o nome e um pouco da vida de alguns escritores e artistas de Mangabeira: poetas, pintores, músicos, compositores. Filhos de Mangabeira que escreveram e publicaram livros. Que pintaram e fizeram esculturas. Que compõem e dominam instrumentos. Entretanto o que o ser humano produz ou cria é susceptível de mudança. De aperfeiçoamento. De lacunas. De erros. E nada é acabado. Quanto mais um livreto desta natureza. A gente esquece nome, a gente erra data. Ora, amigo, é livro de gente. Dados sobre gente. Assim esta coletânea de autores é falha. Com certeza, com o caminhar do tempo - parece que há alguma coisas de errado nisso: o tempo não caminha, nós é que caminhamos no tempo. O tempo nem se
importa com a gente. O tempo é que não perdoa o que a gente faz sem ele. Pois é: com o tempo muita coisa poderá ser corrigida. Cortada. E você, amigo, poderá ajudar nisso. Para diminuir a margem de omisões, devo dizer que, nas páginas de "Mangabeira nas Artes, Nas letras, No mundo", têm lugar aqueles autores que já lançaram, à fome pública, suas mensagens: idéias, emoções, som e cores. Se você tiver coragem de ler biobibliografia. leve Mangabeira para sua casa. Se não, faça-o assim mesmo: a traça e o cupim terão, com certeza, a mesa farta.
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Foto de Cícero Lhyma. |
*Em 25 de Janeiro de 2022, foi encaminhado um projeto de lei através da Veradora Joana Leandro (Joana de Vicente Crente) em que tornaria oficial a data de aniversário do Distrito de Mangabeira no calendário oficial de eventos do município de Lavras.
O pedido foi aceito e agora é oficial o dia 27 de Julho como dia do aniversário do Distrito de Mangabeira.
O Distrito foi criado em 27 de Julho de 1904.
Pra comemorar os 118 anos do Distrito de Mangabeira foi feito um desfile pra escolher a Miss Mangabeira é a vencedora do desfile foi Ana Letícia.
O segundo lugar ficou pra Milene do nascimento e o terceiro pra Maria Aparecida.
Esse desfile contou como parte da programação dos 118 anos do Distrito.
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Foto de Nilberto Henrique. |
*Em 2023, no dia 27 de Julho como parte da programação dos 119 anos do Distrito de Mangabeira, aconteceu o 2 desfile da miss Mangabeira.
Quem venceu essa segunda edição foi Yasmin Ferreira, o segundo lugar ficou com Gisele Nogueira e o terceiro com Milene Nascimento.
Foto de Nilberto Henrique.
*Em 2024 aconteceu a 3 edição do desfile da Miss Mangabeira, tudo como parte da programação dos 120 anos do Distrito, quem venceu essa edição foi Gisele Nogueira, o segundo lugar ficou com Dayse Kelly Tavares e o terceiro lugar com Antônia Samya.
Esse ano foi três títulos, o primeiro Miss Mangabeira, o segundo Princesa do Amargoso e o Terceiro Princesa de Mãe Velha.
Vídeo de Daniel Cândido.
MANGABEIRA (SÃO JOSÉ DE MÃE VELHA).
Já escrevi vários assuntos
Usando várias maneiras
Vou falar de uma terra
E de uma gente hospitaleira
Vou usar o coração
Pra falar com emoção
Sobre a minha Mangabeira.
Falar sobre Mangabeira
Não é preciso forçar
Só quero um pouco de tempo
A cabeça para lembrar
Toda falta de dinheiro
As festas do mês de janeiro
E os becos pra namorar.
Tudo é fácil de lembrar
Com prazer absoluto
É só lembrar-me da roça
Com o seu jeito matuto
Lembro fofocas e intrigas
As festas que davam brigas
Na quadra do instituto.
E era no instituto
Onde tudo começava
As brigas e as paqueras
Pra tudo um jeito se dava
Com alegria ou com choro
Lá começava o namoro
E às vezes terminava.
As festas de Mangabeira
Eu nunca vi nada igual
Forró em todos os clubes
Tudo bem sensacional
Sebasto Água e Germano
Tocava todo o ano
Aquela banda cabaçal.
E na praça eu lembrava
De tudo e de muita gente
Pessoas que deram força
Para o lugar ir pra frente
Como Dr. João Gonçalves
Homem forte e competente.
Por falar em competência
Não posso deixar de falar
Em Zeca e Nita Duarte
Autoridades do lugar
Derinha e Zuza Lemos
Raimundo Gouveia, Ribeiro e Francimar.
Um dos Francimar é de Derinha
O outro é de seu Dôca
Raul e Agapito
E Antônio de Janoca
Dr. Cleide e Alfredo Lemos
Irismá e Raimundo de Mundoca.
Mangabeira deve muito
A D. Chaguinha e Maria Diogo
Parteiras que nunca fugiram
De qualquer prova de fogo
Tico de Baé e Geraldo de Moça
E Vicentinho fazendo jogo.
Tenho orgulho em falar
Do povo do São José
Neguinho do Taquary
Jaime Gouveia e seu Dé
Joãozinho e Socorro Luiz
Zé Ribeiro e Zé Boré.
João Bosco, Luiz e Seu Né
Que são filhos de Doquinha
João Bosco, Cunhado de Francimar
Que é filho de Derinha
Duda e Valdemar de Talina
E Valdemar de Bosquinha.
E de toda essa gente
Tenho essa afeição predileta
Chico e Sebastião Dias
O nosso grande poeta
Sem esquecer Zé Paulino
Um homem de faro fino
Que era nosso profeta.
Passear em Mangabeira
Sempre foi um privilégio
Passeava na rua da Grota
Rua do Cemitério e rua do Colégio
E quando tinha moagem
Lá pela rua da Serragem
Calçadas por Chico e Nilo Sérgio.
Rua da Escadinha e rua do Motor
Rua do Amargoso e rua do Emboque
Nessa rua eu sempre encontrava
Dr. Ivan e Enoque
E na Rua da Aguada
Eu tinha uma namorada
E meu amigo Bodoque.
Passava pela rua da Aguada
Quando vinha do Macacão
Quando ia para o Açude Novo
Passava pela rua São João
Onde mora Francisco de Seu Benedito
E morava Seu Antônio Carrapão.
Franço Moura e Geraldo Tomé
Alberto, Chagas Diniz e Deni
Fransquinha e Socorro Batista
Chico, Geraldo Rodrigues e Franceli
Edvan, Ednaldo e Zé Piaba
João Rita, Juarez e Zé Davi.
Dinô, Vicente e Manoel de Fausto
Pedro Chico, Joaca, Paulinho e Titil
Toinho, Neuda, Nina e Ivanira
Tem Caráter nota mil
Mundoca e a saudade de Raimundo Amâncio
E as imitações de Cicero Bil.
Pedro de Zé Vicente
Elielton, Miúdo, Novo e Francimar
Iran, Marconi e Leone
Joaninha, Tico de Naninha e Mundá
Adelgida e Humberto
Abidão, Neudevania e Ribamar.
Adelânio, Cláudia e Maria
Neném, Branquinha e Cacá
Quinco de Luiz Firmino
São fáceis de encontrar
Se não estão trabalhando
Estão sempre frequentando
O posto da Telemar.
Cicero, José e Pedro Batista
Valderez, Moacir e Leopdina
José, Antônio e Pedro Furna
Luiz Guedes, Luiz Vieira e Brandina
Manoel e Raimundo Marques
João de Mulico e Anedina.
Mangabeira é povoada
De um povo extraordinário
Cláudio e Lena de Irene
Os filhos de Belizário
Raimundo de Filinta e Bel de Pichain
Manoel João e Genário.
Maria e Tico de Raimundo Cesário
Preta e Tico de Raimundo João
Raimundo Tonheiro e Maria Batista
Gordo de Zé Domingos e Baião
Zé de Lau e Zé de Gertudres
Zé de Alfredo e Zé de Antônio Julião.
Acilino, Macaiba e Maranhão
Wilson de Lau e Zé Ceguinho
Inácio, Cateca e Burrega
André Biloto e Antônio Marinho
Tio Aquino e André de Cadoca
Manoel e Carrinho de Mundoca
Leone e Zé Pretinho.
Luiz de Joaquim de Augustino
Irmã Raimunda e Raimundo de Tina
Raimundo Joaquim e Raimundo Rita
Teta e Antônio Carapina
Maria Amélia e Vicente Cazuza
Chico Geraldo e Joao de Jorvina.
Aqui só tem gente fina
Só tem gente de valor
Chico Marcelino e Vicente Raimundo
Luiz Alfredo, Zé Guedes e Zinô
Antônio Cardoso e Chico de Rosa
Tozinha, Alcides e Agenor.
Tem neném o professor
Uma pessoa discreta
Ensinando matemática
Da maneira mais correta
E eu comparo Mangabeira
Com uma linda roseira
Com uma rosa aberta.
Pra história ser completa
E o verso ficar bonito
Dou destaque à importância
De Zeca e Alberto Brito
Raimundo e Manoel Dionísio
Cícero Bil e Acrisio
Jesus Tomaz e Zé de Vitor.
Esse é um povo bonito
De alma e de natureza
Tem muita gente em São Paulo
E muitos em Fortaleza
Ajudando a capital
Com escolas em geral
A adquirir mais grandeza.
À procura de grandeza
Tem gente que está passando
Alguns vêm pra passear
Outros estão trabalhando
E quem vem fazer visita
Acha a cidade bonita
E um dia acaba voltando.
Acaba se apaixonando
Por tudo que aqui ver
Nossas praças, nossas igrejas
O nosso jeito de ser
Nosso pequeno comércio
Nosso jeito de viver.
A pobreza muito conta
Tem feito por merecer
Sua luta e incansável
Tem força para vencer
E é toda essa força
Que faz o lugar crescer.
Essa força pra vencer
E toda dedicação
Tudo isso a gente ver
Na hora da procissão
Nessa devoção santa
Quando todo povo canta
Para São Sebastião.
De lembrar faço questão
De muita gente bacana
Assis Gouveia e Zé Cardoso
João Arcanjo, Cabeleira e Banana
Fátima Diniz, Cândido e Disney
Vicente e Chico de Nanã.
Essa gente não engana
É um povo bem humano
Josias Cardoso e Vicente
Zé de Lula e Luciano
E isso ninguém contesta
É uma gente honesta
Antônio, e Miguel Paraibano.
Queira ver todo ano
Esse povo esse lugar
O Colégio Paulo VI
Onde eu pude estudar
Tirar foto do Amargoso
O nosso símbolo famoso
E lindo de admirar.
Continuo a lembrar
Essa gente especial
Antônio e Zé de Aristides
Um povo sensacional
Valdomiro Teixeira e de Souza
Miguel Água e Dorgival.
É um povo sem igual
Que muito já tem feito
Dênis Padeiro e Rubens Diniz
Chico Aristides prefeito
Três vezes na prefeitura
E trabalhando direito.
Mas tudo não e perfeito
Falta muito a fazer
Passar Mangabeira à cidade
Ja temos o DDD
Falta mais investimento
Nos falta saneamento
Ou alguém para fazer.
Apesar dos seus problemas
Tudo aqui é emoção
Vir visitar essa terra
É mais que satisfacão
Reencontrar os amigos
Que tenho na região.
E o verso ficar bonito
Dou destaque à importância
De Zeca e Alberto Brito
Raimundo e Manoel Dionísio
Cícero Bil e Acrisio
Jesus Tomaz e Zé de Vitor.
Esse é um povo bonito
De alma e de natureza
Tem muita gente em São Paulo
E muitos em Fortaleza
Ajudando a capital
Com escolas em geral
A adquirir mais grandeza.
À procura de grandeza
Tem gente que está passando
Alguns vêm pra passear
Outros estão trabalhando
E quem vem fazer visita
Acha a cidade bonita
E um dia acaba voltando.
Acaba se apaixonando
Por tudo que aqui ver
Nossas praças, nossas igrejas
O nosso jeito de ser
Nosso pequeno comércio
Nosso jeito de viver.
A pobreza muito conta
Tem feito por merecer
Sua luta e incansável
Tem força para vencer
E é toda essa força
Que faz o lugar crescer.
Essa força pra vencer
E toda dedicação
Tudo isso a gente ver
Na hora da procissão
Nessa devoção santa
Quando todo povo canta
Para São Sebastião.
De lembrar faço questão
De muita gente bacana
Assis Gouveia e Zé Cardoso
João Arcanjo, Cabeleira e Banana
Fátima Diniz, Cândido e Disney
Vicente e Chico de Nanã.
Essa gente não engana
É um povo bem humano
Josias Cardoso e Vicente
Zé de Lula e Luciano
E isso ninguém contesta
É uma gente honesta
Antônio, e Miguel Paraibano.
Queira ver todo ano
Esse povo esse lugar
O Colégio Paulo VI
Onde eu pude estudar
Tirar foto do Amargoso
O nosso símbolo famoso
E lindo de admirar.
Continuo a lembrar
Essa gente especial
Antônio e Zé de Aristides
Um povo sensacional
Valdomiro Teixeira e de Souza
Miguel Água e Dorgival.
É um povo sem igual
Que muito já tem feito
Dênis Padeiro e Rubens Diniz
Chico Aristides prefeito
Três vezes na prefeitura
E trabalhando direito.
Mas tudo não e perfeito
Falta muito a fazer
Passar Mangabeira à cidade
Ja temos o DDD
Falta mais investimento
Nos falta saneamento
Ou alguém para fazer.
Apesar dos seus problemas
Tudo aqui é emoção
Vir visitar essa terra
É mais que satisfacão
Reencontrar os amigos
Que tenho na região.
Passear no Oitizeiro
E no sítio Macacão
Sítio Varas e Limoeiro
Taquary e Buracão
Tabuleiro Cumprido e Machado
Extrema, Salvador e Graiado
Malhada bonita e Fundão.
Cantinho e Carnaubinha
Faz parte da região
Aquela fonte de mescla
Nos rouba toda atençāo
Oitis e sítio Barra
Catolé e Barracão.
Volto para Mangabeira
E para a população
Destacando a importância
De João Menezes e Damião
Zequinha de Antônio de Augustinho
E Zequinha de Bastião.
Lembro com muita atenção
Nazinho, Vicente Martins e Joseni.
Zé Candido do limoeiro
Senhor de Zé Candido do Taquari
Zé de Candinho da Barra
Chico de Doquinha e Valdeir.
Quando eu estou aqui
Transformo-me num menino
É um prazer cumprimentar
Amilton Chico e Zé Dino
Quinco Moura e Chico de Osmundo
Nonato de Lisboa e Tributino.
Encontrei Chico de Bino
Canlima e João de Bilinha
Ediglei de Amilton e Raimundo
Amilson e Senhor de Doquinha
Curtinho de Pedro Moreno
Geraldo Chicô e Manoel Pequeno
Antuepe, Renato e Corrinha.
Essa vontade eu tinha
E fiquei muito contente
Vir visitar Mangabeira
Para rever essa gente
Percebi que muita coisa
Hoje está diferente.
A agricultura diferente
Causou-me preocupação
Aqui se planta de tudo
Só não planta o algodão
Pois esse é o ouro branco
Que dava vida à região.
Por falta de condição
O comércio está parado
A crise pegou a todos
0 açougue quase fechado
Um domingo em Mangabeira
Não tem mais aquela feira
Não tem nada a ver como passado.
Mas não se vive do passado
Temos que viver o presente
Boa sorte Mangabeira
Boa sorte á essa gente
Que luta e que trabalha
Que vençam essa batalha
Com bênção do Onipotente.
Não podia ser diferente
sempre uma emoção
Visitar minha cidade
Que a amo de paixão
E rever os meus amigos
Que tenho no coração.
Eu falo com emoção
De Cicero Martins e Zuleide
João Bosco e Geraldo Duarte
Djivan, Leomar e Leoneide.
João Arcanjo, Manoel de Zé Paulino.
Miudo, Bosco e Francineide
Edelza, Glorinha e Rizoneide.
Socorro Cândido e Paulinho Batista
Rocilda, Dr. Hugo e Valtelma
Nos deram grande conquista
Risalva, Valda e muitos outros
Fazem parte dessa lista.
Nossa terra tem dentista
Escritor, padre e poeta.
Artista plástico, juiz e sanfoneiro.
Violonista, professor e profeta
Esse lugar tem de tudo
É uma gente completa.
Essa é uma história discreta
Mas fala de muita gente
Valorizando as pessoas
De um jeito inteligente
Mostrando o seu valor
E o que o nosso povo sente.
Vou falar de mais gente
Com respeito e com cuidado
Lembro a família Pereira
E da família Bernardo
Lembro a família Batista
E a família Conrado.
Temos a família Machado
E a família Mangueira
Destaco a família Moura
Duarte e Oliveira
Minha família Trajano
Dias Fernandes e Moreira.
Melo, Costa e Taveira.
Silva, Bento e Pedrosa.
Ferreira, Cândido e Vieira.
Alencar, Biloto e Feitosa.
Cassimiro, Soares e Martins.
Nunes, Cesário e Barbosa.
Essa gente maravilhosa
Vive aqui fazendo história
Lutando pelo futuro
Correndo em busca de glória
as pessoas que morreram
Estão em minha memória.
Estão em nossas memórias
Elas são inesquecíveis
Ajudaram no passado
Tornaram as coisas possíveis
Vivem em nossos corações
São eternas e invisíveis.
São todas inesquecíveis
Mas estamos no presente
Precisamos lutar muito
Para ajudar essa gente
Que luta e que trabalha
Que se esforça chora e sente.
Sente a necessidade
De crescer e progredir
Passar por melhores dias
Ter motivos pra sorrir
Ver os seus filhos crescer
Sem ter que sair daqui.
Quando tive que sair
Eu só queria ficar
Alegro-me quando chego
Quando o venho visitar
O coração fica apertado
Fico muito angustiado
Na hora em que vou voltar.
Aonde quer que eu vá
A saudade está presente
Não importa o que eu tenha
Tudo é bem diferente
As lembranças fazem sofrer
É difícil de viver
Longe da terra da gente.
Só saudade é o que se sente
Longe desse lugar
Eu vivo sempre sonhando
Com a hora de voltar
E quando estou aqui
Tudo que quero é ficar.
É difícil suportar
Essa saudade consome
Mas quando estou aqui
Com certeza ela some
Procuro ver os amigos
Sem esquecer nem um nome.
Não importa o sobrenome
Se Costa, Silva ou Mangueira.
O que importa é que somos
Uma gente verdadeira
Que tem a felicidade
E muita dignidade
Pra dizer a todo mundo
Com um orgulho profundo
Sou filho de Mangabeira.
(Poema escrito por: Trajano Bezerra).
Foto de Nilberto Henrique.
SETE MARAVILHAS DE MANGABEIRA.
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Foto de Cícero Lhyma. |
1. "O Pé de Amargoso" - (símbolo maior de nossa terra que está localizado no Alto do Amargoso).
![]() |
Foto de Cícero Lhyma. |
2. "A Pedra do Avião" - (localizada na Serra da Mescla).
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Foto de Cícero Lhyma. |
3. "A Cacimba da Pedra" - (localizava-se na estrada que ligava Mangabeira a Cedro, depois do açude Velho que também não existe mais, essa maravilha foi destruída pela ação do homem ao construir a CE).
Foto de Cícero Lhyma.
4. "A Lagoa do Beato" - (localizada na estrada de Mangabeira ao sítio torrões, próximo ao açude novo).
Foto de Cícero Lhyma.
5. "O Corrego do Urubú" - (fica localizado nas proximidades do açude do Macacão).
![]() |
Foto de Cícero Lhyma. |
6. "O Pé de Nossa Senhora" - (também localizado na Serra da Mescla).
![]() |
Foto de Cícero Lhyma. |
7. "A Curva do Padre" - (localizada na antiga estrada que dava acesso a sede do Município).
No dia 2 de Junho de 2021 um carro pipa passou nas ruas de mangabeira jogando água na rua e nas calçadas pra desinfectar, alguns moradores afirmaram que não foi em todas as ruas que esse carro passou, ele esqueceu alguns trechos como por exemplo a rua onde fica localizado a curva do padre, o final da Rua Cândido Salvador Dias.
*Em Julho de 2022, mais precisamente entre os dias 15 e 16 aconteceu em mangabeira a Fliman (1° Feira Literária de Mangabeira) evento riquíssimo pra toda comunidade.
Vídeo de Nadson Lima.
Foto de Cícero Lhyma. |
SETE MARAVILHAS DE MANGABEIRA CONSTRUÍDAS PELO HOMEM.
1. Sala de Leitura José Cândido Dias (Biblioteca) localizada na Rua Cel. Manuel Duarte conhecida como Rua do Emboque em Mangabeira Ceará.
2. A Igreja Matriz (Paróquia de São Sebastião) localizada na Rua Cel. Pedro Mangueira no Distrito de Mangabeira.
3. A Praça Matriz (Dr. João Gonçalves de Sousa) também localizada na Rua Cel. Pedro Mangueira.
4. Estátua de João Gonçalves de Souza localizada na Rua Cel. Pedro Mangueira dentro da Praça Dr. João Gonçalves de Souza, frente a Igreja Matriz.
5. A Caixa D'Água localizada nas proximidades da BR230.
6. A Banda Cabaçal de Mangabeira que infelizmente não existe mais.
Porém foi criada a banda cabaçal filhos e netos.
7. As escolas Paulo VI que era localizada na Rua Thomaz de Lemos e hoje em dia não existe mais e João Gonçalves de Sousa localizada na Avenida São Sebastião.
Apenas a Escola Dr. João Gonçalves de Sousa existe, pois a Paulo VI foi derrubada pra construir a CEI.
Vídeo de Joaquim de Eva.
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